
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) impôs sigilo de cinco anos a dois telegramas diplomáticos que tratam dos irmãos Joesley e Wesley Batista, controladores da JBS, e da atuação da empresa nos Estados Unidos, em meio às negociações para tentar reverter a tarifa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump à carne brasileira.
A existência dos documentos foi confirmada após pedido feito com base na Lei de Acesso à Informação (LAI) pelo jornal O Globo ao Ministério das Relações Exteriores (MRE). Das três comunicações oficiais identificadas, apenas um telegrama foi liberado para consulta pública.
Os outros dois foram classificados como “reservados” por decisão do ministro-conselheiro Kassius Diniz da Silva Pontes, sob o argumento de que sua divulgação poderia “prejudicar negociações” ou “pôr em risco relações internacionais”, conforme prevê o artigo 23 da LAI.
Os dois telegramas sob sigilo, datados de 14 e 31 de julho, envolvem temas sensíveis:
Investimentos de empresas brasileiras nos EUA;
Assuntos parlamentares, entre eles a criação de uma comissão temporária no Senado Federal voltada às relações econômicas entre Brasil e EUA.
O único documento tornado público é de 26 de agosto, assinado pela embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti, que analisa o impacto da tarifa americana sobre a carne bovina. No texto, a diplomata alerta que a nova alíquota, somada à anterior, elevou a taxa total para 76,4%, o que teria levado fornecedores brasileiros a suspender vendas ao mercado americano.
“Ainda não se pode mensurar o impacto da nova tarifa com precisão, mas vários fornecedores já indicaram suspensão de vendas aos EUA em razão das alíquotas proibitivas”, diz o documento.
A decisão de manter sob sigilo parte das informações ocorre no mesmo período em que Joesley Batista se reuniu com o presidente americano Donald Trump, na Casa Branca, para discutir diretamente o tarifaço.
A JBS é a maior processadora de carne do mundo e mantém nove unidades industriais nos EUA, mercado responsável por cerca de 50% da receita global da empresa, que fechou 2024 com US$ 77 bilhões em faturamento.
Joesley também acompanhou Lula em compromissos na Indonésia, como parte de uma comitiva empresarial destinada a fortalecer relações comerciais com países do sudeste asiático.
“A gente conhece muita gente lá, né? Tem que falar bem do Brasil, coisa que todo brasileiro deveria fazer. Infelizmente, nem todo brasileiro fala bem do Brasil”, disse Joesley nesta sexta-feira (24), ao Estadão, ao comentar a conversa com Trump.
Há expectativa de que o tarifaço seja o tema central do encontro entre Lula e Trump neste fim de semana, durante a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Kuala Lumpur, Malásia.
