
A dívida bruta do governo geral (DBGG) atingiu 78,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em setembro, segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta sexta-feira (31.out.2025). O percentual representa uma alta de 0,6 ponto percentual em relação a agosto e marca um avanço expressivo desde o início do atual governo. Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse, em janeiro de 2023, a dívida estava em 71,7% do PIB — o que significa um crescimento de 6,4 pontos percentuais em menos de três anos.
O resultado coloca a dívida próxima dos 80% do PIB, patamar que economistas consideram como zona de alerta fiscal em países emergentes, especialmente em contextos de baixo crescimento e juros elevados.
Segundo o relatório Estatísticas Fiscais, o crescimento da dívida em setembro foi puxado por:
Incorporação de juros nominais: +0,8 p.p.;
Emissões líquidas de dívida: +0,3 p.p.;
Valorização cambial: -0,1 p.p.;
Variação do PIB nominal: -0,4 p.p.
No acumulado de 2025, a alta de 1,6 ponto percentual na dívida foi explicada principalmente pelos juros nominais, que adicionaram 6,6 pontos percentuais ao saldo devedor. O crescimento do PIB nominal ajudou a aliviar parcialmente a escalada da dívida, mas não foi suficiente para conter o avanço.
Em valores absolutos, o estoque da dívida bruta alcançou R$ 9,7 trilhões, somando os passivos da União, do INSS, e de estados e municípios.
O setor público consolidado (União, estados, municípios e estatais) teve um déficit primário de R$ 17,5 bilhões em setembro. Em 12 meses, o déficit primário acumulado foi de R$ 33,2 bilhões. Quando se incluem os gastos com juros da dívida pública, o resultado nominal é ainda mais preocupante: R$ 102,2 bilhões negativos só em setembro e R$ 1,018 trilhão de déficit nominal em 12 meses.
O salto da dívida acontece no momento em que o governo enfrenta críticas pela expansão fiscal desde o início do mandato. Medidas como o aumento de despesas com programas sociais, gastos com pessoal e emendas parlamentares, além de renúncias tributárias e “tarifaços” escondidos por meio de mudanças regulatórias, têm gerado pressões adicionais sobre o Tesouro.
A situação fiscal se agravou apesar da elevação da arrecadação neste ano, puxada principalmente pelo desempenho da Receita Federal. Mesmo com o aumento da receita líquida em setembro (+R$ 58,4 bilhões no acumulado do ano), o ritmo de crescimento das despesas tem sido maior.
A deterioração das contas públicas coloca em xeque a credibilidade da nova âncora fiscal, o arcabouço fiscal aprovado em 2023, e aumenta a pressão sobre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que ainda tenta convencer o mercado de que o governo entregará déficit zero em 2026.