
Após as críticas contundentes do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que acusou o governo federal de negar apoio militar e equipamentos essenciais no combate ao crime organizado, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) divulgou nota nesta terça-feira (28) tentando refutar as declarações. No entanto, o ministério se esquivou do ponto mais sensível da discussão: por que recusou os pedidos de reforço das Forças Armadas para operações nas comunidades fluminenses?
 
A resposta da pasta chefiada por Ricardo Lewandowski centrou-se em destacar um rol de ações já conhecidas, como o emprego da Força Nacional desde 2023 e a realização de operações da Polícia Federal. Segundo o MJSP, todos os pedidos referentes à Força Nacional foram atendidos e a atuação da PF resultou em mais de 210 prisões, 10 toneladas de drogas e 190 armas apreendidas neste ano.
 
 
Mas, em relação à principal acusação feita por Castro — a recusa de blindados e outros recursos militares — o ministério manteve o silêncio.
 
“O MJSP tem atendido, prontamente, a todos os pedidos do Governo do Estado do Rio de Janeiro para o emprego da Força Nacional”, diz o comunicado, que não menciona os três pedidos recusados de apoio das Forças Armadas, citados por Castro.
 
Embora o governo federal afirme estar colaborando com o estado, os números apresentados soam mais como justificativa do que como explicação. O Ministério detalhou operações, doações de equipamentos no valor de R$ 10 milhões e repasses de fundos de segurança que, segundo a própria nota, foram subutilizados pelo governo estadual.
 
No entanto, o esforço em transferir parte da responsabilidade para o Palácio Guanabara escancara o desconforto do Planalto em assumir protagonismo em ações de confronto direto com facções — especialmente quando isso envolve o uso de forças militares em áreas sensíveis, como as comunidades cariocas.
 
 
Em tom técnico e distante, o MJSP citou também parcerias com o Rio, como a criação de comitês de inteligência financeira, redes de combate ao crime organizado e envio de vagas em presídios federais. Mas nenhuma dessas ações responde à pergunta mais urgente: por que, diante de uma guerra declarada contra o tráfico, o governo federal se recusa a mobilizar os meios que detém para apoiar de forma efetiva o Estado?
 
Ao evitar novamente o envio das Forças Armadas — alegando, nas entrelinhas, a ausência de decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) — o governo Lula parece adotar uma estratégia deliberada de não envolvimento. A aversão histórica da esquerda à presença de militares nas favelas, somada ao receio de repercussões políticas, vem pesando mais que a urgência da situação de segurança pública no Rio.
 
 
Enquanto isso, o Estado segue agindo com o que tem — e o que falta. Castro, por sua vez, parece ter assumido a linha de frente não apenas no combate ao crime, mas também na cobrança por uma postura mais ativa da União.
 
 
A megaoperação desta semana, com mais de 80 prisões e dezenas de mortes entre traficantes e criminosos, escancarou a força bélica das facções e a limitação das polícias locais diante de um inimigo com armamento de guerra. Se há cooperação, como insiste o governo federal, ela tem se mostrado tímida demais para o tamanho do problema.
 
O discurso do Planalto fala em parceria. A prática mostra recuo. E no meio desse impasse, quem paga o preço é a população do Rio de Janeiro.