
Segundo o jornal Estadão, a produtora Macaco Gordo, do empresário Francisco “Chico” Kertész — sócio do ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, na agência Nordx (ex-M4) — recebeu R$ 12 milhões pela execução de peças publicitárias de Caixa Econômica Federal e Embratur entre 2024 e 2025. Os dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação.
 
Como foram as contratações
Caixa e Embratur mantêm contratos com as agências Binder, Calia e Propeg para criação de campanhas. Essas agências, por sua vez, subcontratam produtoras mediante cotação de preços (mínimo de três propostas), sem licitação formal, e submetem os orçamentos à aprovação do órgão público.
 
 
Em 2024, a Caixa pagou R$ 38 milhões a produtoras; a Macaco Gordo ficou com R$ 3,6 milhões. Em 2025 (até setembro), os desembolsos somaram R$ 21 milhões, dos quais R$ 4,3 milhões foram para a produtora — cerca de 20% do total e o maior valor entre as fornecedoras naquele ano.
 
Campanhas e valores
Caixa
• Quina de São João (Binder) – R$ 988 mil (2024)
• Poupançudos (Binder) – R$ 1,1 milhão (2024)
• Mega da Virada (Binder) – R$ 1,4 milhão (2024)
• Renegociação de dívidas – “Tudo em Dia Caixa” (Calia) – R$ 2,3 milhões (2025). Houve aditamento de R$ 687 mil sem nova pesquisa de preços, sob a justificativa de “serviço adicional”.
• Lotofácil da Independência (Propeg) – R$ 1,5 milhão (2025)
• Minha Casa, Minha Vida (Propeg) – R$ 516 mil (2025)
 
Embratur
• Afroturismo (Calia) – R$ 1,9 milhão (2024)
• Projeto Realidade Virtual/Sebrae (Calia) – R$ 1,9 milhão (2024)
 
Vínculos societários e agenda
Kertész é sócio-administrador da Nordx (antiga M4), criada em 2022 para a campanha presidencial de Lula e hoje prestadora do diretório nacional do PT. Sidônio permanece no quadro societário, mas, desde que assumiu a Secom, não exerce gestão, conforme a pasta. Em 2025, já como ministro, Kertész fez 13 visitas ao Palácio do Planalto (janeiro a junho), todas registradas para encontros com Sidônio; ele afirma que foram “de cunho pessoal”.
 
Antes do governo federal, a produtora prestou serviços para a agência Leiaute (de Sidônio) em contratos do governo da Bahia. O TCE-BA apontou falhas de detalhamento e risco de direcionamento; o MP-BA propôs ação civil e a Leiaute firmou acordo para adotar controles mais rígidos.
 
 
O que dizem os envolvidos
Secom/Sidônio Palmeira: “Jamais indicou ou endossou fornecedores”; a escolha de produtoras é das agências licitadas, com mínimo de três cotações. O ministro diz ter se afastado da gestão das empresas ao tomar posse e classifica como “infundadas” insinuações de ingerência.
 
Macaco Gordo (Chico Kertész): produtora com “15 anos de mercado”; venceu concorrências internas por menor preço e adequação técnica, “sem contato com a Secom”.
 
 
Caixa: processos seguiram normas internas; Macaco Gordo foi selecionada por menor preço entre no mínimo três orçamentos. O banco trabalhou com 41 produtoras desde 2023.
 
Embratur: seleção conduzida pela agência responsável, com chamadas e sessões públicas; “não houve interferência da Secom”.
 
Binder e Calia: confirmam escolha por menor valor. Propeg não se manifestou.
