
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) abriu ação contra a Wepink, empresa da influenciadora Virgínia Fonseca, por supostas práticas abusivas contra consumidores. Em sua defesa, apresentada antes do caso ser levado à Justiça, a empresa afirmou que as reclamações partiam de “fãs excessivamente ansiosos”, que registrariam críticas como estratégia para “acelerar entregas” dos produtos.
O MP-GO descreveu o argumento como “tese singularmente criativa” e comparou a defesa a “colocar culpa no consumidor”. “Segundo essa lógica inovadora, quando alguém paga por um produto e não o recebe, ao reclamar formalmente nos órgãos de defesa do consumidor estaria, na verdade, demonstrando amor incondicional pela marca (ou influencer) para que sua aquisição chegue antecipadamente”, destacou o órgão.
A promotoria aponta que a Wepink descumpre prazos, dificulta reembolsos, entrega produtos com defeito e exclui comentários negativos nas redes sociais. Nos seis primeiros meses de 2025, foram registradas 32.540 queixas na plataforma Reclame Aqui, uma média de 177 reclamações por dia. Já no Procon de Goiás, foram 230 queixas em 2024 e 110 neste ano.
O MP ressaltou que consumidores demonstram “ansiedade e esgotamento emocional com pós-venda, verificando diariamente envios inexistentes, sentimentos de humilhação ao serem sistematicamente ignorados”. Em uma das reclamações registradas, uma cliente relatou que seu comentário negativo sobre produtos defeituosos foi apagado apenas duas horas após a publicação.
Segundo o MP, o caso evidencia o “uso da influência digital para gerar demanda sem a devida estrutura logística para atendê-la”. Eventos para promover os produtos da marca são frequentemente feitos em lives de Virgínia, que possui mais de 53 milhões de seguidores. Entre as estratégias recentes estavam sorteios de motos, carros 0km e iPhones.
Durante uma live, Thiago Stabile, sócio da Wepink, admitiu problemas de abastecimento: “A gente tinha 200 mil faturamentos por mês. A gente saltou de 200 mil faturamentos por mês para 400 mil faturamentos por mês”. Para os promotores, a declaração indica que os sócios continuaram vendendo mesmo sem capacidade de entrega, assumindo que os lucros superariam o custo das reclamações.
Na ação, o MP solicita a suspensão das lives promocionais até a regularização das entregas, criação de um canal de atendimento efetivo, sem uso de robôs, e um mecanismo simplificado de cancelamento e reembolso. A promotoria pede ainda a condenação da empresa ao pagamento de R$ 5 milhões por danos morais coletivos.
