Neste sábado (13) é celebrado o dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro. Também seria um dos dias do mês em que muitos estariam pulando fogueira nas festas juninas por todo o país. Mas, como sabemos, os tão amados “arraiás” precisaram ser cancelados devido ao isolamento social causado po novo coronavírus. Sendo assim, o Concurso Nacional de Quadrilhas Juninas também foi suspenso. O Mais Goiás conversou com competidores, que comentaram sobre o momento atual, a expectativa para o próximo ano e a importância dessa cultura que atravessa gerações.
Márcio Nunes, 35 anos, é presidente da Confederação Brasileira de Entidades Juninas (Confebraq) e organiza anualmente o Concurso Nacional de Quadrilhas Juninas, que acontece de forma itinerante desde 2005. Segundo Márcio, o sentimento atual é de tristeza, “mas é necessário pensar primeiro na saúde”.“Por conta da pandemia, este ano não realizamos a assembleia para definir em qual Estado o concurso aconteceria. Geralmente definimos o local em março e a competição ocorre em julho”, afirma Márcio. Ele diz que, para o evento de 2021, todos “estão no escuro”, pois no segundo semestre deste ano será realizada uma eleição para definir o novo presidente da confederação.
Concurso Nacional reúne a quadrilha junina vencedora de cada Estado (Foto: Reprodução)
Sobre o Concurso Nacional de Quadrilhas Juninas, Nunes explica que participam as quadrilhas campeãs de cada Estado. Somente o Estado que sedia o concurso tem dois grupos inscritos, um que abre e outro que encerra o evento.
“Nossa intenção é mostrar a campeã de cada localidade, com dois dias de um evento alegre e divertido que mantém viva a tradição”, acrescenta Márcio. Para não deixar o período passar em branco, o quadrilheiro indica que os fãs de festas juninas procurem saber do calendário de lives realizadas por vários grupos. “Não vamos deixar essa cultura morrer”.
O Concurso Nacional de Quadrilhas Juninas acontece anualmente de forma itinerante. Em 2019 foi realizado no Distrito Federal (Foto: Divulgação)
Alzer Gomes, 59, é presidente da Quadrilha Junina Arriba Saia. O grupo coleciona quatro títulos de Melhor Quadrilha de Goiás e foi vencedor como Melhor Quadrilha do Brasil em 2017. Alzer diz que, mesmo triste, é preciso já pensar nos arraiás do ano que vem.“São eventos familiares que trazem lembranças para quem participa. Mas agora é importante abrirmos mão para que em 2021 a gente volte a brincar o São João tranquilamente”. Alzer afirma que o grupo faria um belo espetáculo esse ano, mas que agora planeja surpreender as expectativas do público.
O presidente do Arriba Saia explica que o grupo é composto por 72 casais, 20 componentes na equipe de produção e uma torcida organizada com mais de 250 integrantes. “Agora começamos a fazer lives para reviver um pouco a animação desta época. Lives com os dançarinos, com os admiradores do grupo etc. Marcamos até o dia de maratonar os vídeos das competições anteriores”, diz Alzer.
Arriba Saia é composto por 72 casais, 20 componentes na equipe de produção e uma torcida organizada com mais de 250 integrantes (Foto: Divulgação)
Outra quadrilha junina de Goiás, a Renascer, já tem 26 anos de fundação. Segundo o presidente, Daniel Costa, 34, o grupo foi campeão duas vezes no circuito goiano, além de ganhar três vezes na categoria de Melhor Casal de Noivos. Daniel garante que os quadrilheiros “vivem” o período o ano todo, não somente em junho e julho.
“Ao terminar uma competição já começamos a trabalhar na próxima, a pensar em como executar o trabalho, no tema da dança, correr atrás de verba etc. É trabalhoso mas gratificante, tem que gostar e se dedicar. Poucas pessoas imaginam o que a gente passa para chegar na hora da quadrilha tudo pronto e bonito”, declara Daniel.
A Quadrilha Junina Renascer já tem 26 anos de fundação (Foto: Divulgação)
O presidente da Renascer afirma que, após uma reunião realizada em março, suspendeu todas as atividades do grupo devido a preocupação com a pandemia. “Paramos presencialmente, porque na internet a Renascer não para, o pessoal está se movimentando nas redes sociais. O momento é de aflição, mas vai nos dar um gás para dançar muita quadrilha ano que vem” garante.
Daniel explica que, mesmo se a pandemia terminasse agora, seria inviável realizar concursos ainda este ano. “Cada grupo leva em torno de seis meses ensaiando para fazer o espetáculo acontecer. Toda essa situação nos fará falta, mas está nos dando garra para renovar as ideias. Acho que não só eu, mas todos os colegas quadrilheiros vão querer surpreender” afirma.
Cada grupo profissional ensaia cerca de seis meses antes do Concurso Nacional. Na imagem, a Quadrilha Renascer (Foto: Divulgação)
Quadrilheiro há 25 anos, o policial militar Thiago Henrique, 36, é ex-presidente da Quadrilha Junina Renascer e atual dançarino da Arriba Saia. Ele diz que a paixão por festas juninas ocorrem em razão da diversidade proporcionada e afirma que será muito difícil não “pular fogueira” esse ano.
“Me sinto triste, mas é necessário seguir as recomendações de saúde e não aglomerar pessoas”, diz. Thiago acrescenta que as comemorações ficarão restritas às redes sociais e com a família em casa. Sendo assim, ele criou o projeto Live Juninaque, com a participação de vários quadrilheiros do Brasil, debatia em lives no Instagram vários aspectos do movimento.
“Fizemos uma série de debates sobre temas como repertório musical, planejamento e temática, figurino e coreografia. Não haverá as quadrilhas, mas estamos produzindo conhecimento através das redes sociais”, afirma.
O quadrilheiro Thiago Henrique dançando na Arriba Saia (na foto à esquerda) (Foto: Divulgação)
Arte e desenvolvimento econômico
Lamentando pela não realização das celebrações, o presidente da Confebraq, Márcio Nunes, atenta para outros fatores importantes dos arraiás e do Concurso Nacional: a questão econômica e social. Segundo Nunes, após um levantamento realizado junto às entidades juninas em 2017, foram levantados alguns dados os quais ele considera importantes.
“Naquele ano mapeamos no Brasil a realização de duas mil quadrilhas infantis, sete mil adultas, mas de um milhão de brincantes envolvidos, dez mil músicos, uma média de quatro milhões de metros de tecidos gastos e 35 mil profissionais contratados, entre coreógrafos, marceneiros, produtores, dançarinos entre outros. Foram movimentados cerca de R$ 150 milhões em festas juninas”, garante.
As festas juninas não serão realizadas devido ao isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus (Foto: Divulgação)
Márcio diz que em 2019 o Concurso Nacional de Quadrilhas Juninas, que foi realizado em Cruzeiro no Distrito Federal, contou com a participação de 17 estados. “Foram mais de 1.600 dançarinos consumindo no local durante dias, fora os quadrilheiros da própria cidade. Assim a gente gera emprego e desenvolve a economia, seja na parte hoteleira, turística ou alimentícia”, afirma.
Para o presidente da Confebraq, as quadrilhas juninas mudaram bastante com o passar dos anos. Se antes eram festas voltadas para o catolicismo, com homenagens aos santos da religião, hoje esse cenário mudou. “A cada ano estão crescendo as quadrilhas evangélicas e de outras religiões. Tudo está evoluindo”, diz.
Integrantes da Quadrilha Junina Renascer (Foto: Divulgação)
O pensamento também é compartilhado por Daniel Costa, presidente da Quadrilha Renascer. Para ele os arraiás não são só religião, são também arte. “As pessoas vão para apreciar o espetáculo. Isso é muito gratificante para nós, pois tudo isso é fruto do nosso suor. A gente não ganha nada, mas só de ver todo mundo feliz nos assistindo, é uma felicidade”, comemora.
Alzer Gomes, da Arriba Saia, considera que as festas juninas ultrapassam o Carnaval como a maior celebração do Brasil. “Temos eventos durante todo o mês de junho e parte de julho, é um grande acontecimento para a cultura nacional. Além disso, as quadrilhas atraem pessoas de todas as idades, une a família e é a mistura perfeita de comidas típicas, dança, brincadeiras e arte“, finaliza.
Quadrilha Junina Arriba Saia (Foto: Divulgação)
O quadrilheiro Thiago Henrique diz que as festas juninas de 2021 serão especiais para todos, tanto para os envolvidos quando para o público. “Nesse período, em qualquer bairro que você vai, você vê uma fogueira e bandeirolas. É uma época do ano que todos ficam esperando. Diante da não realização por causa do isolamento social, nos resta aguardar ansiosamente para que, no ano que vem, a gente mantenha essa cultura viva não só em Goiás, mas em todo Brasil“, conclui.