Depois de ter sido citado nesta manhã pelo presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria, fez nesta quarta-feira o enfrentamento mais contundente ao presidente durante a pandemia do novo coronavírus. O tucano pediu a Bolsonaro respeito aos mortos na pandemia do novo coronavírus e cobrou dele que saia do gabinete e visite as cidades mais atingidas pela Covid-19.
-Saia da redoma de Brasília. Se não quiser visitar São Paulo vá a Manaus, presidente. Vai ajudar o governador e o prefeito de lá, no mínimo, estando presente para ver a realidade do seu país e não a sua realidade do estande de tiro onde foi ontem celebrar enquanto choramos mortes de brasileiros. Saia da bolha, da fábula e do mundinho do ódio. Percorra hospitais e seja solidário com a realidade do seu país – criticou Doria.
Bolsonaro referiu-se diretamente a Doria e ao prefeito de São Paulo, Bruno Covas, nesta manhã ao comentar o avanço da epidemia no país. O número de óbitos pela Covid-19 chegou a 5.017 nesta terça-feira, ultrapassando as mortes ocorridas na China. São Paulo registrou 24 mil casos confirmados e 2.049 óbitos.
-A imprensa tem que perguntar para o Doria por que mais gente está perdendo a vida em São Paulo – disse Bolsonaro. – Pergunte ao senhor João Doria, ao senhor Bruno Covas, por que tomaram medidas tão restritivas, e continua morrendo gente – afirmou o presidente.
Na terça-feira Bolsonaro não quis comentar o novo recorde de mortes pela Covid-19 no país, registrado na terça-feira. Quando perguntado sobre o fato de o Brasil ter ultrapassado a China em número de casos ele disse:
— E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre — complementou, se referindo a um dos seus sobrenomes.
Doria reagiu a essa declaração e enumerou o que considera que o presidente pode fazer para controlar a doença.
– Posso enumerar algumas atitudes que o senhor já deveria ter tomado como presidente da República e não adotou. É fazer aquilo que não fez, começando por respeitar os brasileiros que o elegeram e os que não votaram no senhor. Famílias que perderam seus parentes pelo coronavírus, que o senhor classificou com uma gripezinha. Respeite o luto dessas famílias, os médicos, enfermeiros e profissionais de saúde que, ao contrário do senhor que vai treinar tiro, estão trabalhando para salvar vidas – disse o governador.
A poucos dias do pico da pandemia no estado, Doria acusou o presidente de fazer “política de perversidade” e de “atrapalhar” quem está tentando controlar a pandemia.
-Pare de fazer política em meio a um país que chora mortes e infectados. Diante de mais de 5 mil mortes o senhor continua afirmando que o país está vivendo uma pandemia de uma gripezinha? – provocou o governador.
O tucano também direcionou críticas ao presidente no campo pessoal.
– O senhor que gosta de tratar tudo como números e acha que a vida é um número, eu não acho que vida é número. Nem meus filhos são tratados por número. Meus filhos são tratados pelo nome, com carinho amor e afeto. Espero qe o senhor ainda possa resgatar o seu sentimento para ter olhar de compaixão pelo seu país – disse, referindo-se aos apelidos de 01, 02, 03 e 04 que Bolsonaro dá a seus filhos.
Agência O Globo
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Do Agência O Globo | Em: 29/04/2020 às 14:10:34