Adotadas às pressas por causa do novo coronavírus, as aulas à distância têm sido desafiadoras e têm mudado a rotina de professores e alunos. Incertezas, plataformas e internet instáveis, desigualdade de acesso e “concorrência” com outros conteúdos virtuais compõem, em Goiás, o cenário atual da Educação em tempos de pandemia. No Dia Internacional da Educação (28 de abril), o Mais Goiás conversou com docentes sobre a “nova”, ousada e desafiadora realidade do trabalho que troca as salas de aula por telas de dispositivos eletrônicos.
Na rede estadual de ensino, as aulas estão suspensas desde o dia 15 de março e devem permanecer assim até o dia 30 de maio. Nesta seara, há uma diversificação na forma como os professores ministram as aulas, já que nem toda escola e nem toda região possui a mesma condição de acesso às ferramentas digitais. “Algumas usam o site zoom e fazem aula ao vivo com participação de alguns alunos. Outras passam vídeos explicativos e atividades escritas. Depende muito”, afirma o professor Thiago Oliveira Martins.
Segundo o docente, os professores têm tido liberdade para propor as aulas. “Quanto a isso não podemos reclamar muito. As atividades podem ser postadas em blogs e sites. As videoaulas não precisam necessariamente ser feitas pelos professores, pode ser conteúdo explicativo do Youtube. Depois, os estudantes enviam as tarefas por e-mail e redes sociais. Vai de cada professor adequar as aulas à realidade dos alunos. Isso está bem heterogêneo e livre”, disse.
Thiago salienta porém que os alunos que não possuem condição de assistir às aulas e ter acesso às atividades virtuais podem se deslocar até as escolas para conseguir o material impresso com a coordenação de cada unidade de ensino. “A gente sabe que as condições de acesso são diferentes. Há alunos que têm dificuldade com os equipamentos virtuais, outros têm que trabalhar. Uma das saídas para manter os alunos com atividades são essas tarefas impressas”.
Há também uma nova proposta de aulas para os Ensinos Fundamental e Médio pela TV Brasil Central (TBC). A Seduc negocia com a emissora a disponibilidade de um horário pela manhã e um horário no período da tarde dedicados à transmissão dos conteúdos.
Desafios
A professora Juliana Alencar* também elogia a liberdade para ministrar as aulas, apesar disso, ela afirma que a experiência tem sido desafiadora. Isso porque, segundo ela, não basta transformar a aula que seria presencial para o meio digital. “É preciso criar estratégias para fazer com que a aula seja enriquecedora. Não adianta gravar um vídeo por gravar”, relatou.
Para a docente, a principal preocupação é a desigualdade de acesso aos conteúdos. “Infelizmente teremos uma perda gigantesca nesse semestre. A aula presencial é, de fato, mais interessante e bem aproveitada. As aulas virtuais contam com o engajamento de pouquíssimos estudantes, em geral aqueles que já são mais aplicados presencialmente”. De acordo com ela, os prejuízos com relação ao aprendizado dificilmente serão recompensados.
“É quase impossível repor esse déficit porque os conteúdos não pararam. Estamos ministrando novos assuntos, tirando dúvidas sempre que possível. As condições não são as mais adequadas, claro, mas é o que pode ser feito nesse momento de crise”, ressaltou.
Outro problema enfrentado, segundo Juliana, é a “concorrência” com outros assuntos do meio virtual. “De longe é difícil ver quem está prestando atenção e quem está utilizando o celular, computador ou tablet para jogos, redes sociais e outros conteúdos. É difícil concorrer com esses desvios”.
O Mais Goiás entrou em contato com a Secretaria de Educação (Seduc) em busca de um posicionamento acerca do que tem sido feito para que os alunos sem internet e ferramentas digitais consigam ter acesso às aulas virtuais e aguarda retorno.
**Nome fictício utilizado para preservar a identidade da fonte.
Jessica Santos
Do Mais Goiás | Em: 28/04/2020 às 13:23:13