
Antônio Camilo parece que não operava só no esquema do INSS e os indícios nessa direção surgiram na nova fase da Operação Sem Desconto. Ao justificar o mandado de busca e apreensão contra Roberta Luchsinger, a Polícia Federal explicou que a lobista atuava no Ministério da Saúde e na Anvisa, apesar dos repasses recebidos pelo Careca do INSS.
A mesma investigação indicou que ela defendeu junto ao governo federal o interesse de ao menos dois clientes distintos: a World Cannabis, do próprio Careca, e a Duosystem, especializada em telemedicina — pauta de interesse da Secretaria de Informação e Saúde Digital, comandada por Ana Estela Haddad, mulher de Fernando Haddad.
Há registros de cinco visitas de Antonio Camilo e Roberta Luchsinger a Swedenberger Barbosa, quando secretário-executivo de Nísia Trindade, ministra da Saúde até março deste ano. Ela também se reuniu fora da agenda com Alexandre Padilha, na ocasião secretário de Relações Institucionais.
Há indícios ainda de que parte dos milhões recebidos por Luchsinger tinham como destino seu amigo Lulinha. Um ex-funcionário de Antonio Camilo chegou a dizer que o filho do presidente da República teria recebido R$ 25 milhões do operador, além de uma mesada de R$ 300 mil.
A investigação demonstrou também que Careca se associou a Danielle Fonteles, publicitária petista que seria uma espécie de operadora em Portugal, esquentando em imóveis o dinheiro desviado dos esquemas. Ela teria recebido de Antonio Camilo cerca de R$ 5 milhões.
Não foi a única. Ex-chefe de gabinete e homem de confiança de Davi Alcolumbre, o advogado Paulo Boudens recebeu outros R$ 3 milhões de uma das empresas controladas pelo lobista. O senador Weverton Rocha (PDT-MA), outro aliado do presidente do Senado, foi alvo da PF dias atrás por suspeita de atuar como sócio oculto do Careca.
São muitas pontas soltas que as investigações ainda precisam reunir, mas tudo indica que, no mínimo, Antonio Camilo se transformou num caixa de diferentes esquemas de corrupção, servindo de intermediário também para o pagamento de parlamentares.
Lembra o primeiro grande operador financeiro da era PT, Marcos Valério. Na época do mensalão, o publicitário usava suas agências de publicidade para receber recursos do Banco do Brasil e dos Correios, depois simulava empréstimos com o Banco Rural e gerava recursos físicos para pagar parlamentares que votavam com o governo.
Lembra também o doleiro Alberto Youssef, principal operador do petrolão. A Lava Jato demonstrou, com riqueza de provas, que ele simulava contratos de consultoria e até de importação para movimentar o dinheiro sujo dos contratos da Petrobras, da Eletrobras, de obras do PAC e até de investimentos de fundos de pensão.