
Líderes governistas e ministros admitem: faltam cerca de 50 votos para alcançar os 257 necessários e aprovar a MP no plenário da Câmara. A contagem apertada expõe uma base que não se formou — e um custo político que subiu com a proximidade do prazo de caducidade nesta quarta.
Sinal de alerta interno. Pela 1ª vez, um ministro fala em risco real de derrota. O próprio líder do PT, Lindbergh Farias, reconheceu dificuldades (“tem uma turma querendo derrubar a MP; estão cavando um buraco no Orçamento”). O governo enxerga contaminação eleitoral (2026): cálculo de bancada e projetos pessoais pesam mais que a agenda fiscal do Planalto.
Quem trava. A bancada ruralista — hoje com cerca de 300 deputados — posicionou-se contra a MP, mesmo após concessões. Na comissão mista, o texto foi desidratado: poupou as bets de alta de tributação e manteve isenções sobre rendimentos de títulos imobiliários e do agronegócio. Ainda assim, a aprovação saiu por 13 a 12, prenúncio do sufoco no plenário.
Centrão em modo leilão. A leitura no governo é de pressão coordenada: líderes do Centrão elevaram o preço do apoio. O Planalto fala em “sabotagem” e vê tentativa de inviabilizar o arcabouço para forçar cortes em programas sociais em ano pré-eleitoral. Já a oposição nega “golpe de bastidores” e diz que a MP é ruim e arrecadatória.
Tarcísio no radar (e a negativa). Integrantes do governo atribuem a Tarcísio de Freitas articulações contra a MP; o governador nega: “focado em SP”, “não costumo ligar pedindo voto”. Fato político: o tema virou marcador de posição para 2026.
Erros de tática.
Contagem otimista da base e fatia de concessões que não converteu votos-chave.
Narrativa fiscal dependente de aumento de receita, o que mobiliza ruralistas e parte do setor de serviços.
Timing: levar ao plenário com margem incerta às vésperas do prazo amplia o poder de barganha alheio.
O que o governo pode fazer agora.
Nova rodada de concessões (setores sensíveis, transições, exceções) para afrouxar a resistência ruralista.
Fatiar pontos polêmicos e priorizar o que dá caixa rápido.
Plano B se a MP cair: projeto de lei com urgência e acordos setoriais, evitando vácuo normativo.
Riscos em caso de derrota.
Ruído fiscal imediato e teste à credibilidade do ajuste.
Cortes ou remanejamentos no Orçamento, municiando a oposição.
Perda de tração da liderança na Câmara, com efeito dominó sobre próximas votações.
O que observar no plenário.
Quórum e presença efetiva de indecisos.
Fechamento (ou não) da bancada ruralista.
Destaques que aliviem pontos de maior atrito.
Sinalização do Senado: sem acordo entre Casas, o risco de caducar cresce.
O governo tentou transformar concessões em votos, mas esbarrou em dois vetores que não se compram no varejo: corporativismo setorial (ruralistas) e cálculo eleitoral (Centrão). A matemática de 50 votos faltantes mostra que, por ora, quem dita o preço é a “praça”, não o Planalto. A sessão de hoje dirá se o governo paga, posterga — ou engole a derrota e refaz a rota.
