
O governo dos Estados Unidos entrou em shutdown à 0h desta quarta-feira (1º) após o Congresso não aprovar o orçamento do ano fiscal de 2026. A paralisação interrompe parcialmente o funcionamento da máquina federal e já deve atingir serviços públicos, pagamentos a fornecedores e a renda de parte dos servidores.
Em 2018/2019, o bloqueio mais longo durou 35 dias e gerou perdas estimadas em US$ 3 bilhões ao PIB americano, segundo o órgão orçamentário do Congresso.
O que é o “shutdown”
É a paralisação parcial do governo federal quando a Câmara e o Senado não aprovam as leis de gasto (ou um crédito provisório, o continuing resolution).
Sem autorização orçamentária, agências fecham atividades “não essenciais” e servidores desses setores são licenciados sem pagamento (“furlough”).
Serviços essenciais — como controle aéreo, segurança de fronteiras e pagamentos vinculados a leis permanentes — continuam, mas os servidores podem trabalhar sem receber até a regularização.
Parques nacionais, museus, publicações de dados oficiais (como o payroll) e liberações de empréstimos costumam ser adiados. Ao fim do shutdown, os salários atrasados são pagos por lei.
Efeitos imediatos nos mercados
A incerteza tende a ampliar a aversão ao risco. Para a economista Cristiane Quartaroli (Ouribank), isso pode fortalecer o dólar no curto prazo por busca de proteção. Se o impasse for lido como disfuncionalidade política, parte dos investidores pode migrar para outras moedas, reduzindo a pressão pró-dólar.
Já Beto Saadia (Nomos) avalia que um impacto negativo sobre o PIB e o elevado endividamento americano podem provocar saída de capital e perda de valor do dólar adiante.
Reflexos no Brasil
Câmbio: o real tende a se desvalorizar primeiro, acompanhando o humor global. O movimento pode ser atenuado por entradas via commodities.Produtos Brasileiros
Crédito corporativo: dólar eventual mais caro e juros globais pressionados encarecem captação de empresas, diz Richard Ionescu (Grupo IOX). Em contrapartida, ativos locais com fluxo previsível, como FIDCs, ganham atratividade.
Bolsa: a suspensão de indicadores — em especial o relatório de emprego — pode deixar o Federal Reserve “no escuro” por algumas semanas, favorecendo realização de lucros e quedas em Nova York, com reflexo em mercados emergentes, afirma Paula Zogbi (Nomad).
Atividade econômica
Se a paralisação se prolongar, licenças de servidores reduzem consumo e atrasam serviços públicos. Estimativas citadas por Andressa Durão (ASA) apontam queda média de 0,1 ponto do PIB por semana de shutdown.
O impasse segue sem previsão de solução. A trajetória do câmbio, das bolsas e das curvas de juros — no Brasil e no exterior — dependerá sobretudo da duração da paralisação e dos sinais de acordo no Congresso norte-americano.
