O Banco Central (BC) indicou, na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) desta terça-feira, 4, que a inflação deve permanecer acima do teto de 4,5% por pelo menos seis meses consecutivos, entre janeiro e junho. Esse cenário já configuraria o descumprimento da meta sob o novo regime de “meta contínua”, que entra em vigor a partir de 2025.
No documento, a autoridade monetária destacou que a alta dos alimentos pode ter um efeito prolongado sobre a inflação devido aos mecanismos de indexação da economia brasileira. Em outras palavras, um choque temporário nos preços pode se tornar permanente.
“Esse aumento (dos alimentos) tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”, afirma o BC.
Além do impacto da alta dos alimentos, o Copom alertou para outros fatores que pressionam a inflação, como o mercado de trabalho aquecido e a desvalorização do real diante do fortalecimento do dólar. Essa última variável, segundo o BC, está sendo impulsionada por incertezas no cenário externo, especialmente pelos riscos associados a políticas protecionistas dos Estados Unidos.
Pressão sobre juros e necessidade de corte de gastos
Na reunião da semana passada, a primeira sob a presidência de Gabriel Galípolo, o BC elevou a Selic em um ponto percentual, para 13,25% – o quarto aumento consecutivo desde setembro do ano passado, quando a taxa era de 10,5%. A ata também reafirmou a intenção de novo aumento de um ponto percentual na reunião de março, mas sem uma sinalização clara sobre os rumos da política monetária após maio.
O Banco Central reiterou que a trajetória da taxa de juros dependerá do compromisso com a convergência da inflação para a meta. No entanto, fez um novo apelo para que a política fiscal seja “harmoniosa” com a política monetária, ou seja, para que o governo Lula controle os gastos públicos.
“No período recente, a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida seguiu impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, destacou o documento.
Caso as contas públicas não sejam ajustadas, a indicação do BC é clara: ainda não há um limite para o aumento dos juros no país.