O Rio Meia Ponte, um dos mananciais que abastecem Goiânia, pode estar em pleno curso de extinção a se levar em conta as alterações ambientais verificadas pelas autoridades. De acordo com especialistas ouvidos pelo Mais Goiás, a retirada de matas ciliares e a alteração de nascentes e cursos d’água podem resultar num inevitável ressecamento do rio, com consequências diretas para o fornecimento de água aos goianienses.
De acordo com a Polícia Civil de Goiás, cerca de mil construções em 14 loteamentos podem ser demolidas por provocarem danos ambientais irreversíveis ao Meia Ponte. O delegado Luziano de Carvalho revelou que essas construções foram erguidas em Áreas de Preservação Permanente (APPs) situadas às margens do Rio Meia Ponte e do Córrego Capoeira de Dentro, mudando cursos d’água, secando nascentes e erguendo muros e drenos em áreas de brejo.
Para o engenheiro florestal Douglas Cezar, esse tipo de edificação é mais comum do que se pensa em Goiás, o que provoca efeitos extremamente nocivos para os cursos d’água. “APPs são áreas que devem ser respeitadas segundo as legislações específicas, para que a gente tenha uma maior proteção dos mananciais e evite erosões, assoreamentos e questões relacionadas a diminuição da água. Então, se você remove uma APP, você tem problemas relacionados a todos esses quesitos”, pontuou.
Rio Meia Ponte: mais de mil construções em 14 loteamentos podem ser demolidas por dano ambiental (Foto: Divulgação/PCGO)
O engenheiro explica que a ocupação humana nessas áreas acaba por afetar os pontos essenciais para o “funcionamento” de um rio, como as nascentes que, segundo ele, é “onde há realmente o afloramento de água”. Conforme Douglas, com a frequência que essas alterações ambientais são verificadas, “o Rio Meia Ponte pode sim, num momento de um futuro próximo, vir a secar”, o que provocaria “consequências catastróficas para Goiânia“.
Com escassez do Rio Meia Ponte, revezamento fixo de água em Goiânia seria inevitável, diz consultora
Membro da Empia Consultoria Ambiental, Thainá Lima corrobora dos pontos levantados por Douglas ao afirmar que construções tais quais as encontradas em APPs provocam a impermeabilização do solo e retiram a mata ciliar que, segundo ela, “é uma proteção para o rio de danos externos”.
De acordo com Thainá, as alterações ambientais fazem efeito sobre o Meia Ponte já há algum tempo e, num futuro não muito distante, a falta d’água pode ser uma realidade contínua do goianiense. “Desde 2017 estamos enfrentando períodos muito longos de estiagem e o revezamento de água. Não é uma coisa que vai acontecer, é uma coisa que já está acontecendo e a tendência é só piorar a ponto de haver dias da semana em que algumas regiões de Goiânia terão água e outras não”, arremata.