Uma médica na linha de frente no combate ao coronavírus foi brutalmente espancada no último sábado (30) à tarde por ao menos cinco frequentadores de uma balada clandestina no Grajaú, na zona norte do Rio de Janeiro. Após quebrar o retrovisor de um veículo estacionado irregularmente de um dos integrantes da festa, ela teve as mãos pisoteadas, um dos joelhos fraturados e foi enforcada até perder a consciência.
A médica usou o seu perfil no Facebook para denunciar o caso e as “festas do corona”, que ocorrem em uma casa ao lado do Corpo de Bombeiros. O texto já teve mais de 11 mil compartilhamentos. “Pisotearam minha garganta, mas não calaram minha voz”, disse ela. A vítima também relatou que, durante as agressões, pediu socorro a bombeiros e pedestres e ninguém ajudou.
O dono do carro, segundo a vítima, se identificou como policial e exigiu que ela pagasse R$ 6.800 pelos danos.
Segundo a médica, as baladas clandestinas, com aglomeração de pessoas e som alto até de madrugada, ocorreram por três dias seguidos na semana passada, causando transtorno aos moradores.
“[Os frequentadores da festa] saem da casa para urinar nos postes da rua, espalham garrafas de cerveja por todos os cantos, não deixam ninguém dormir”, contou a médica.
De acordo com a médica, a polícia foi acionada. Mas não chegou a aparecer no local.
No sábado, eu teria um plantão à noite e havia trabalhado no dia anterior todo. Na linha de frente da covid. Trabalho pesado, exaustivo. Precisava dormir um pouco de tarde para assumir meu plantão noturno. E a festa continuava
Em seguida, ela relatou ter quebrado o retrovisor de um dos veículos e trincado o para-brisa. “Foi errado. Foi impensado. Foi estúpido. Mas sou humana e fiz uma besteira contra um bem material de outra pessoa. Não foi um ato contra nenhum outro ser humano, isso eu sou incapaz de fazer”, relatou.
Ela então disse ter fugido do local, enquanto era perseguida por cinco homens. “Me agarraram em frente ao Hospital Italiano. Me enforcaram até desmaiar. Me jogaram no chão e me chutaram. Quando retornei à consciência, gritava por ‘socorro'”, contou.
Ela disse que a cena foi presenciada por moradores, pelo segurança do hospital e por pessoas que passavam de carro. Mas ninguém impediu as agressões.
“Eu pedia para que chamassem a polícia e alguém me ajudasse, por favor. Para que filmassem com um celular o que estava acontecendo, uma ajuda pelo amor de Deus. Mas ninguém veio. Algumas senhorinhas passaram pela cena e falaram para me matar mesmo. Quebraram meu joelho esquerdo e pisotearam minhas duas mãos”.
Do FolhaPress | Em: 01/06/2020 às 22:01:31