Enquanto o primeiro-ministro Boris Jonhson, depois de muito relutar, decretava quarentena nacional, no último dia 23, para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, uma pequena parte do Reino Unido já estava fechada para o mundo havia duas semanas. Tristão da Cunha, uma ilha isolada no Atlântico Sul, não hesitou diante das notícias que chegavam via satélite: era a reclusão irrestrita ou a ameaça de uma tragédia.
Sem qualquer acesso aéreo, é conhecido por ser o lugar mais remoto do mundo. Tristão forma com as ilhas Santa Helena e Ascensão um pequeno arquipélago e é chamado também de a Ilha da Asma. O apelido veio depois que um documentário da BBC, de 2008, revelou que seus habitantes sofrem de uma pré-disposição para a doença respiratória, reflexo da pouca variação genética da população. Ou seja, seus exatos 253 moradores fazem parte do grupo de risco da Covid-19.
A decisão de se fechar foi tomada no dia 9 de março. Navios de turismo e de pesquisadores da vida marinha, previstos para atracar no porto da ilha nas semanas seguintes, foram avisados de que teriam de cancelar a viagem. Mas havia ainda os moradores de Tristão da Cunha que retornavam da Cidade do Cabo, na África do Sul. É a localidade continental mais próxima da ilha e está a 2,8 mil quilômetros — para se ter uma ideia, cerca de 2,6 mil quilômetros separam o Rio de Natal, no Rio Grande do Norte.
Parte da quarentena dos que regressavam para Tristão foi feita no mar, durante os sete dias embarcados. O restante aconteceu em um posto de quarentena montado no porto da ilha. Somente depois de mais sete dias, e sem apresentarem sintomas da doença, puderam voltar de fato para suas casas. O navio que os levou foi embora e deixou para trás os moradores que haviam programado viagem para realizarem tratamentos médicos no continente. Foram aconselhados a priorizar a prevenção da doença.
No último dia 10, a administração de Tristão da Cunha informou que a ilha segue sem casos registrados do novo coronavírus, um dos últimos lugares do planeta livre da pandemia — de acordo com o levantamento da Universidade Johns Hopkins, 185 países e territórios já conhecem a Covid-19.
— No momento estamos sem casos do coronavírus na ilha e esperamos que continue assim — afirmou Anne Green, integrante de uma das sete famílias que colonizaram a ilha ao longo da segunda metade do século XIX e que ainda têm descendentes no local.
Agência O Globo
Do Agência O Globo | Em: 19/04/2020 às 09:30:21