O presidente Jair Bolsonaro disse neste sábado que a paralisação da atividade econômica causada pelas restrições em estados e municípios para conter o coronavírus pode afetar o pagamento de salários de servidores públicos. A declaração foi dada a um grupo de apoiadores no Palácio do Planalto. O presidente criticou as medidas de isolamento social adotadas por gestores locais.
— Desde o começo, sozinho, venho falando dos dois problemas: o vírus e o desemprego. O desemprego já se faz presente no seio da sociedade. Os informais cresceram muito, são quase 40 milhões no Brasil. O pessoal celetista também milhões já perderam seus empregos. A economia não roda dessa forma. Vai faltar dinheiro para pagar servidor público, e o Brasil está mergulhando num caos — afirmou o presidente.
A queda na arrecadação de impostos é um dos efeitos da paralisia na atividade econômica. Para mitigar esse problema, estados e prefeitos querem que a União compense os governos locais pelas perdas, conforme projeto aprovado por deputados semana passada e que foi criticado pelo governo.
O projeto tem o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ao fazer referência indireta a Maia, Bolsonaro afirmou que não vão tirá-lo do cargo.
— Eu quero crer que não seja apenas má vontade desses políticos, que não vou nominar aqui, querer abalar a Presidência da República. Não vão me tirar daqui — disse o presidente, enquanto manifestantes gritavam ‘Fora, Maia’.
Na última quinta-feira, Bolsonaro acusou Maia, em entrevista à CNN, de “conduzir o Brasil para o caos”, ao criticar o texto de ajuda aos estados.
Na ocasião, o presidente afirmou ainda que a proposta equivale a “matar a galinha dos ovos de ouro”, em referência ao impacto da medida sobre as contas do governo federal. ‘Mudamos a política’, diz em referência a Teich
Bolsonaro voltou a defender a flexibilização das medidas restritivas, mas lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que cabe a governadores e prefeitos decretar o isolamento.
— O Supremo falou que eu não tenho autoridade para isso, o Supremo disse isso, no que depender de nós, nós vamos começar a flexibilizar — disse o presidente.
Ele sinalizou ainda que espera mudanças nas diretrizes sobre isso do novo ministro da Saúde, Nelson Teich, que tomou posse nesta sexta no lugar de Luiz Henrique Mandetta.
— Mudamos a política um pouco agora, a partir de ontem, né, começa a mudar um pouquinho nossa política.
‘Não tem dinheiro para tudo isso’
Mais cedo, em conversa com jornalistas, Bolsonaro já havia criticado o Legislativo por ter aprovado a recomposição de impostos a estados e municípios.
— Não tem dinheiro para tudo isso. Vão ficar querendo que o contribuinte pague esta conta até quando? — disse ele a jornalistas neste sábado, da rampa do Palácio odo Planalto.
Em relação à crise com Maia, Bolsonaro afirmou que é o presidente da Câmara que vem o atacando “há dias”. Questionado se conversou com o presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP) sobre a votação, prevista para segunda-feira, da medida provisória que cria o Contrato Verde e Amarelo, desconversou:
— Não tenho nada contra ele, o Davi é meu chapa.
Bolsonaro ainda afirmou que o avanço dos casos de covid-19 no país é um problema tão grave quanto o desemprego causado pelo fechamento do comércio.
— Alguns milhões de empregos formais foram destruídos, fora os informais — disse, criticando o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que vai manter a medida pelo menos até 3 de maio.
O presidente também criticou a mais recente pesquisa Datafolha, segundo a qual 64% da população considera que ele errou ao demitir o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
— Datafolha é pesquisa do Zé do botequim da esquina. Não tô preocupado com Datafolha, mas com o Brasil. O resultado mesmo do Datafolha mesmo é isso aqui — disse, apontando para cerca de 20 apoiadores que o aplaudiam em frente ao Planalto.