A possível transferência do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) para uma rua ao lado da Associação dos Idosos do Brasil, no Setor Aeroporto, provocou preocupação entre voluntários, frequentadoras e moradores da região. A voluntária Deborah Rabello, que acompanha as idosas atendidas, afirma que a comunidade não recebeu nenhum comunicado oficial sobre a instalação do serviço.
“Ninguém comunicou nada. Descobrimos porque eu fui até a Central de Óbitos, vi a movimentação e perguntei o que estava acontecendo”, relata. Segundo ela, servidores teriam informado que o prédio receberia “uma cracolândia”, antes de corrigirem para Centro Pop. Para demonstrar a insatisfação, os moradores realizaram um protesto na sexta-feira (5).
Deborah explica que, ao lado do prédio escolhido, funciona diariamente uma associação que acolhe entre 40 e 50 idosas por tarde, oferecendo atividades como dança, música, ioga e oficinas de celular. “A nossa pergunta é simples: quem teve a ideia de colocar isso aqui, grudado no muro das idosas?”, questiona. “Todos os dias, mais de 150 idosas são atendidas pela instituição. Como vão trazer 100 ou 200 moradores de rua para o lado delas?”
A voluntária afirma que muitos moradores só souberam da mudança porque pessoas ligadas à associação decidiram ir ao local. “A informação que chegou para a gente é que iriam avisar os moradores só depois, para não gerar rebelião. Eles iam simplesmente chegar aqui no dia 11 e inaugurar”, relata.
Ela também questiona por que o Centro Pop foi retirado da Alameda Botafogo, onde funcionou nos últimos anos. “Se lá estava funcionando, por que tiraram? Os moradores fizeram abaixo-assinado, chamaram a televisão. Se era um lugar seguro, por que mudar?”, diz.
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Segundo Deborah, a notícia da mudança já tem causado insegurança entre as frequentadoras da associação. Ela afirma que a presença crescente de pessoas em situação de rua na região já vinha sendo percebida desde a saída do Centro Pop da Alameda Botafogo. “Eles estão migrando devagarzinho. Alguns entram na associação, passam a mão nas idosas, afrontam. Não é todo mundo, claro, mas isso já está acontecendo”, relata.
O medo, segundo ela, é que o serviço leve ao fechamento da associação. “Se acontecer algo com uma idosa, as outras vão parar de vir. E esse é o lugar onde elas passam a tarde, para não ficarem sozinhas em casa”.
“Pelo amor de Deus, senhor Mabel, não faz isso. Nós ajudamos você a subir e agora você está descendo os idosos para deibaixo da terra antes da hora”, diz Dona Conceição, de 72 anos, uma das idosas atendidas no local.
O que é o Centro Pop
O Centro Pop é um Centro de Referência Especializado para pessoas em situação de Rua. Nele são oferecidas rodas de conversa, apoio psicossocial e atividades voltadas à autonomia e à reinserção familiar. Cada unidade atende, em média, 20 pessoas diariamente, mas a Prefeitura ainda não informou oficialmente quantas serão atendidas na nova estrutura.
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Moradores cobram respostas
Os moradores do Setor Aeroporto e a Associação dos Idosos divulgaram nota conjunta afirmando serem contrários à escolha do local. “A instalação de um equipamento de grande fluxo e alta complexidade social ao lado imediato de uma instituição dedicada exclusivamente ao cuidado de idosas representa um risco social, psicológico e urbanístico sem precedentes para nossa comunidade”, diz o documento.
Eles reforçam que não são contrários às políticas sociais, mas pedem que o poder público esclareça pontos básicos. “Eu apoio que esse público tenha dignidade, moradia, atendimento. Mas do jeito que essa transferência foi feita, não funciona. E aqui, ao lado de idosas, não funciona mesmo”, conclui Deborah.
Procurada pela reportagem, a Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO) afirmou que acompanhada o processo de perto.
O Mais Goiás solicitou um posicionamento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social de Goiânia sobre a decisão e o motivo da mudança do Centro Pop da Alameda Botafogo para o Setor Aeroporto, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem. O espaço permanece aberto pra manifestação.
