
Senador desvio de esforços da PF para perseguição política
O senador Eduardo Girão cobrou do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, esclarecimentos sobre o avanço da violência no Ceará durante a CPI do Crime Organizado desta terça (18) e questionou se a PF tem desviado esforços para uma possível “perseguição política”, ao citar cidades sob domínio de facções, expulsão de famílias e falhas de cooperação entre forças estaduais e federais.
Girão abriu a fala relatando que seu estado vive “uma grave crise humanitária” e disse ter ficado surpreso com a declaração do ministro da Justiça de que o Ceará seria referência em segurança pública. O senador citou dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que colocam cinco municípios cearenses entre os mais violentos do país, incluindo Maracanaú, onde um líder religioso de um terreiro de Umbanda foi expulso.
Ele indagou se a PF tem repassado informações ao Ministério da Justiça sobre a situação e pediu a avaliação do diretor sobre a expansão de facções na região. O senador citou ainda dados apresentados em audiência anterior, segundo os quais pessoas “que infringem a criminalidade e ofendem o Supremo Tribunal Federal” poderiam ser barradas na imigração, com 143 mil nomes em lista de alerta. Diante disso, questionou:
“A POLÍCIA FEDERAL ESTÁ DIRECIONANDO SEUS ESFORÇOS PARA UMA PERSEGUIÇÃO POLÍTICA, EM DETRIMENTO DO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO?”
Girão pediu números sobre operações da PF no Ceará nos últimos 36 meses e questionou se prefeituras, câmaras municipais e servidores podem estar cooptados por facções. O senador citou casos de prefeitos investigados, relacionou disputas locais ao financiamento de campanhas e mencionou um gestor municipal foragido que, segundo ele, “todo mundo sabe onde está”.
O senador também tratou das expulsões de famílias de comunidades inteiras por grupos criminosos: “A cada três dias, uma família está sendo expulsa de suas casas no Ceará. São duas mil famílias.”
Ele perguntou se a PF considera as remoções como possíveis violações previstas no Estatuto de Roma e pediu mecanismos emergenciais de proteção.
Outro ponto citado foi a atuação de casas de apostas e possíveis vínculos com lavagem de dinheiro. Girão perguntou se a PF avalia que a legislação atual facilita irregularidades e se a corporação enviou recomendações ao Executivo.
Ao responder, Andrei Rodrigues afirmou que a PF atua como polícia de Estado.
“Desafio quem quer que seja a dizer e mostrar concretamente qualquer perseguição ou qualquer proteção que tenhamos feito”, disse. Ele acrescentou que, se houver indícios de prevaricação por razões políticas, quer receber as informações:
“Eu sou o maior interessado na correção e na conduta exemplar que todo policial federal precisa ter.”
diretor da PF na CPI do Crime Organizado. Foto: TV Senado
diretor da PF na CPI do Crime Organizado. Foto: TV Senado
O diretor apresentou números de prisões: 4.084 em 2022, 16.079 em 2023 e 12.400 até outubro de 2025. No Ceará, citou 11 operações das Forças Integradas de Combate ao Crime Organizado e 18 operações da PF, com 230 prisões e 469 mandados de busca e apreensão.
Rodrigues disse que a PF não substitui as polícias estaduais, mas coopera com elas.
“Esse é um problema de segurança pública que não tem cor partidária”, afirmou. Ele também detalhou acordos com bancos, empresas do sistema financeiro e a Interpol para reforçar o rastreamento de operações suspeitas.
