Acordo do Brics abre espaço para a entrada do peixe asiático
Na mesma semana em que o governo de Lula incluiu a tilápia na Lista Nacional de Espécies Exóticas Invasoras, foi autorizada a importação de 700 toneladas do peixe vindas do Vietnã. O primeiro contêiner, parte de um lote de 32 cargas, deixou o país asiático em 6 de novembro e deve chegar ao Porto de Santos em 17 de dezembro.
A operação é conduzida pela JBS e cumpre o acordo firmado durante a Cúpula Ampliada do Brics, em julho, que abriu o mercado brasileiro para tilápia, peixe-galo, tra e basa vietnamitas. Em contrapartida, o Vietnã ampliará a compra de carne bovina brasileira.
O embaixador vietnamita Bui Van Nghi afirmou que o envio representa avanço nas relações comerciais entre os dois países e reforça a posição do Vietnã como parceiro estratégico. Disse também que a operação valida a qualidade dos produtos agrícolas e aquícolas vietnamitas na América Latina.
A classificação da tilápia como espécie invasora provocou reação no setor aquícola. Produtores afirmam que o rótulo pode criar entraves de licenciamento, gerar insegurança jurídica e dificultar a expansão da produção nacional. O Ministério do Meio Ambiente afirma que a classificação é técnica e não impede a criação comercial.
A liberação das importações ocorreu após o Ministério da Agricultura revogar, em abril de 2025, a suspensão aplicada no ano anterior. A decisão está no Despacho Decisório nº 379, que retomou a autorização para entrada de filés de tilápia do Vietnã.
Produtores temem competição desigual devido ao menor custo de produção no Vietnã, favorecido por subsídios e regras ambientais menos rígidas. A Associação Brasileira da Piscicultura alerta para risco sanitário, citando diferenças no sistema de cultivo que podem introduzir doenças inexistentes no Brasil. O Ministério da Pesca afirma monitorar os impactos, mas destaca que a autorização é responsabilidade do Ministério da Agricultura.
O Brasil é o quarto maior produtor mundial de tilápia. Em 2024, registrou 662,2 mil toneladas, alta de 14,3% em relação a 2023, o equivalente a 68% da piscicultura nacional, segundo o Anuário PeixeBR 2025. A cadeia produtiva gera cerca de 3 milhões de empregos diretos e indiretos e movimentou US$ 59 milhões em exportações. O consumo cresce a ritmo anual de 10,3%.
