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Haddad quer “constranger” ricos a pôr até US$ 25 bi no fundo florestal
Por Silvio Cassiano - SiCa
Publicado em 08/10/2025 12:58
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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assumiu em público uma estratégia de constrangimento diplomático para tirar do papel o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF): quer que países ricos coloquem US$ 20–25 bilhões iniciais, após Lula ter anunciado US$ 1 bilhão do Brasil. A mira é a COP30, em Belém. O discurso é claro: apresentar uma proposta “irrecusável”. A prática, menos.Investir no Brasil

 

O que está sendo proposto

Meta de capitalização: R$ 125 bilhões antes de operar.

 

Modelo: países e empresas emprestam dinheiro ao fundo (não é doação pura). O TFFF aplica os recursos em baixo risco, gera retorno e:

 

remete parte dos lucros a até 70 países tropicais (teto de US$ 4 bilhões/ano, somando todos), com cota obrigatória a povos indígenas;

 

devolve o principal e parte do lucro aos investidores.

 

No papel, é um arranjo “ganha-ganha”: preservação com remuneração financeira. Na execução, depende de três pilares que não são triviais: governança, renda estável e confiança.

 

 

Onde a estratégia empaca

“Constranger” não é convencer

Funciona no Congresso (Haddad citou a isenção de IR até R$ 5 mil como proposta “irrecusável”). Em diplomacia, costuma gerar resistência: governos do G7 têm restrições fiscais e parlamentos céticos com novos compromissos “verdes”. O risco é transformar um pedido em queda de braço.

 

Doação x empréstimo: qual é a régua?

O ministro fala em doar US$ 20–25 bi, mas o desenho do TFFF é de empréstimo remunerado. Se for doação, quem paga o custo político em casa? Se for empréstimo, qual a taxa, prazo, garantias e como o fundo protege o investidor se o ciclo de juros cair e o retorno minguar?

 

Promessa de retorno

Entregar até US$ 4 bi/ano de lucros aos países receptores implica um yield de ~3% sobre um patrimônio de US$ 125 bi (na hipótese de paridade próxima). É factível em ambiente de juros altos; frágil se o mundo voltar a juros baixos. Quem absorve a volatilidade?

 

 

Governança e elegibilidade

Quem decide quanto cada país recebe, com quais metas, quem audita e como se evita captura política? Sem regras claras e verificáveis, o TFFF vira caixa-preta — e os cheques não chegam.

 

O cálculo político de Haddad

Para dentro, o governo tenta vender liderança climática e “dinheiro novo” para a Amazônia, com Lula de anfitrião da COP30.

 

Para fora, busca legitimidade para pedir recursos, oferecendo instrumento financeiro (e não só retórica).

 

Risco: a retórica de “constranger” vira manchete em capitais que decidirão o aporte. Diplomacia costuma preferir incentivos, cofinanciamento e garantia de resultados a moral suasion.

 

Quem aplaude e quem chia

Setor ambiental e parte do mercado: gostam da ideia de fundo perene, com governança financeira e previsibilidade de fluxo.

 

Contribuinte doador e oposição externa: questionam adicionalidade (é dinheiro novo ou reembalagem?), riscos de governança e competição com prioridades domésticas.

 

Países beneficiários: apoiam, mas querem cheques e cronogramas, não só desenho.

 

O que observar até a COP30

Termos financeiros: taxa-alvo, prazos, colchão de perdas, rating esperado do veículo.

 

Governança: composição do board, métricas de desempenho (desmatamento evitado, carbono, indicadores sociais) e auditoria independente.

 

Âncoras: há investidor-âncora público/privado? Sem âncoras, o “constrangimento” sobra.

 

Pipeline: projetos elegíveis claros e replicáveis — sem isso, o fundo capta e não desembolsa.

 

Haddad quer trocar retórica climática por instrumento financeiro e usar pressão política para acelerar aportes. Funciona se houver regras sólidas, preço certo do risco e governança blindada. Sem isso, o TFFF vira mais um anúncio vistoso na prateleira da COP — e menos um mecanismo que realmente paga a conta da preservação.

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