
Lula escolheu o confronto retórico. Ao dizer que não vai implorar apoio e que será “muito difícil” derrotá-lo em 2026, o presidente tenta vender força enquanto a base fisiológica ameaça desembarcar. PP e União Brasil — pilares do centrão — pressionam por espaço e testam limites ao colocar na berlinda André Fufuca (Esportes) e Celso Sabino (Turismo). O Planalto reage dizendo que os ministros ficam, que expulsão partidária seria “equívoco” e que não compra deputado. É um recado de moralidade política; no presidencialismo de coalizão, soa também como aposta de risco.Produtos Brasileiros
Elogios de fora, cobrança por dentro
Lula capitaliza o elogio público de Donald Trump (“bom homem”, “ótima conversa”) para inflar a narrativa de “vitória diplomática”. Mas, na prática, o americano amarrou o processo a um fiador que fala com sua própria base — Marco Rubio — mantendo pressão ideológica sobre o Planalto. Traduzindo: o governo vende o gesto simbólico; o preço real das entregas (tarifas, sanções) será cobrado no varejo político. Isso reduz a margem de manobra de Lula — e aumenta o custo de errar portas adentro.
Centrão em modo leilão
Ao desafiar PP e União em público, Lula tenta disciplinar a tropa. O problema é aritmético: sem esses votos, governabilidade e pauta econômica emperram. A bravata “quem quiser vai, quem não quiser, boa sorte” atende à militância, mas encoraja o pedágio: mais cargos, mais verbas, mais ingerência. O presidente diz que não negocia assim; o Congresso costuma funcionar assim.
Maranhão como laboratório
No Maranhão, Lula inaugurou 2.837 moradias (R$ 358,6 milhões) e prometeu Gás/Luz do Povo e IR até R$ 5 mil. Em Imperatriz, reduto do agro com viés bolsonarista, venceu Rildo Amaral (PP) — aliado de Carlos Brandão (sem partido). O recado local: alianças estaduais importam mais que slogans nacionais. Lula promete “pacificar a base” entre brandonistas e remanescentes de Flávio Dino. Se conseguir, prova força; se falhar, vira manual de como perder aliados ao centro.
Discurso x aritmética
O que Lula quer: manter ministros, segurar centrão sem “pagamento adiantado”, faturar com a vitrine (habitação, isenções), e chegar a 2026 dizendo que “a extrema direita não volta”.
O que a base ouve: se não houver sinais concretos (espaço e orçamento), o custo de permanecer no governo supera o de “independência” até a eleição.
Riscos e oportunidades
Risco: transformar pauta de coalizão em plebiscito antecipado sobre 2026 — e fortalecer a chantagem do centro.
Oportunidade: usar os elogios externos e as entregas sociais para baixar a temperatura, mostrando resultado e deixando o centrão sem álibi para saltar do barco.
O que observar
Destino de Fufuca e Sabino: permanência sem concessões ou rearranjo de espaços em ministérios e estatais.
Votos-chave no Congresso: se a pauta começar a travar, o discurso de “não imploro” terá de ser revisto na prática.
Roteiro Rubio–Alckmin/Haddad/Vieira: comunicados técnicos (bom sinal) vs. condicionantes políticos (alerta).
Movimentos regionais: onde PP e União mantêm cargos estaduais, medirá o grau de lealdade real à Esplanada.
