
O Rio das Almas, que corta a charmosa cidade de Pirenópolis, em Goiás, é muito mais do que um curso d’água importante para a hidrografia do estado. Ele nasce no Parque Estadual da Serra dos Pireneus, percorre municípios como Jaraguá, Ceres, Rialma, Uruaçu e outros, até desaguar no Rio Maranhão, formando parte da Bacia do Tocantins. Mas, além da relevância geográfica, o que chama a atenção mesmo são as histórias e lendas que envolvem esse rio. Cada localidade por onde ele passa tem sua própria versão, e em Pirenópolis, algumas delas atravessaram séculos, ganhando força no imaginário popular.
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O nome que nasceu de uma promessa
De acordo com a tradição oral, no dia 7 de outubro de 1727, um grupo de bandeirantes liderado por Manoel Rodrigues Tomáz chegou às margens do Rio das Almas em busca de ouro. Eles fizeram uma promessa: se encontrassem ouro, rezariam uma missa pelas almas do purgatório. O achado aconteceu exatamente naquele dia, dedicado a Nossa Senhora do Rosário. A missa foi realizada, e em homenagem às almas, o rio recebeu o nome que carrega até hoje. Foi ali também que surgiu o Arraial de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte, a atual Pirenópolis.
Embora os historiadores apontem divergências nessa versão — como o fato de o descoberto ter sido obra do bandeirante Amaro Leite, antes de 1727 — a história se consolidou no imaginário popular como uma das explicações mais fortes sobre a origem do nome do rio.
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Tragédia e lamentos nas margens do rio
Outra versão, cercada de mistério, fala de uma grande enchente ocorrida no período do garimpo. Mineradores que viviam às margens do Rio das Almas morreram e tiveram seus corpos levados pelas águas. Como muitos não receberam sepultamento adequado, acreditava-se que suas almas ficaram vagando pelo local. Durante dias, moradores afirmavam ouvir clamores vindos do rebojo da curva do rio, como se fossem lamentos pedindo descanso. O barulho só teria cessado quando os corpos foram resgatados e, com rezas e missas, entregues às almas do purgatório.
Naquela época, a crença de que a alma ficava perdida caso o corpo não fosse encomendado era muito forte. Essa explicação ajudou a consolidar a aura sobrenatural em torno do rio, tornando o Rio das Almas um espaço carregado de significados místicos.
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Canoas que se movem sozinhas
Em Ceres, outra cidade cortada pelo rio, circula uma narrativa ainda mais curiosa. Moradores afirmam que, em determinadas ocasiões, canoas foram vistas subindo o Rio das Almas sem nenhum tripulante. Sem vento, sem motor, apenas deslizando contra a correnteza, como se fossem guiadas por presenças invisíveis. Para muitos, seriam as próprias almas dos que morreram nas margens do rio, mantendo-se vivas através de sinais misteriosos.
Embora alguns tratem a história como folclore ou mera coincidência, para outros é uma prova de que o Rio das Almas guarda muito mais do que águas correntes. Essas versões alimentam o imaginário coletivo e transformam o rio em um verdadeiro palco de narrativas sobrenaturais.
Cultura, fé e tradição
O que fica claro é que o Rio das Almas não é apenas um elemento natural. Ele carrega consigo a história da mineração, da fundação de cidades e da religiosidade popular em Goiás. Seja pela versão da promessa, pela tragédia dos mineradores ou pelas canoas misteriosas, o fato é que o rio se transformou em um símbolo cultural. Suas lendas reforçam o quanto o folclore e a tradição oral mantêm vivas memórias que atravessam gerações.
Em Pirenópolis e em outras cidades, essas histórias continuam sendo contadas, tanto para moradores quanto para turistas curiosos. Assim, o Rio das Almas permanece como um rio lendário, onde fé, tragédia e mistério se encontram em suas águas.
