
Em depoimento à CPMI do INSS nesta quinta (25), o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, negou participação no desvio de valores da folha de pagamento de aposentados e afirmou ser alvo de uma “narrativa fantasiosa”. “Jamais fui este personagem fictício”, disse, ao rejeitar o apelido e ligar as acusações a reportagens e adversários políticos.
Antunes foi questionado sobre um almoço na casa do senador Weverton Rocha (PDT-MA). Disse que o encontro não teve cunho político e tratou de medicamentos à base de cannabis. Segundo ele, a aproximação ocorreu após contato com uma assessora do gabinete em evento da PRF sobre autismo. “Foi essa a aproximação. Coincidência? Mera coincidência”, afirmou.
Sobre os 14 veículos de alto valor apreendidos pela Polícia Federal — avaliados em mais de R$ 6 milhões —, declarou ter empresa de comércio e locação de automóveis e negou ocultação de patrimônio. Ao ser indagado sobre uma Ferrari F8 Tributo, estimada em R$ 4 milhões e encontrada na casa do empresário Fernando Cavalcanti, investigado por lavagem, disse que o filho apenas fotografou o carro “por curiosidade”.
A atuação de Antunes junto à Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos) concentrou parte da oitiva. A entidade, investigada por descontos irregulares, teria movimentado R$ 499 milhões e saltado de 3 para 600 mil associados em dois anos; mais de 90% teriam dito nunca ter autorizado os débitos. Questionado pelo relator Alfredo Gaspar (União-AL) sobre possível conflito de interesses — a empresa Prospect, ligada a Antunes, teria recebido cerca de R$ 12 milhões da Ambec —, ele respondeu que as procurações serviam apenas para “facilitar burocracias”, com prazo determinado, e negou ter controle da entidade. Também disse não ter participado de Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com o INSS.
Antunes negou vínculo societário com Rubens Oliveira Costa, apontado por parlamentares como beneficiário de R$ 947 mil em espécie. “Todas as operações envolvendo meu CPF ou CNPJs foram legais e registradas”, disse. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) pediu acareação entre os dois. O presidente da CPMI, Carlos Viana (Podemos-MG), afirmou que depoentes já ouvidos “podem ser reconvocados” caso novas provas contrariem versões apresentadas.
Em paralelo às apurações da CPMI, tramita no STF a Ação Penal 2.428, que condenou Carla Zambelli (PL-SP) e Walter Delgatti Neto por invasão e adulteração de sistemas do CNJ — caso distinto do foco da comissão. Zambelli nega as acusações.
