
O Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás (Simego) anunciou uma nova paralisação dos atendimentos realizados por médicos credenciados junto ao Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO). O movimento terá início à 0h desta quarta-feira (30) e se estenderá até as 23h59 da próxima sexta-feira (1º), totalizando 72 horas.
A decisão foi aprovada em Assembleia Geral Extraordinária Permanente realizada no último dia 21. Segundo o sindicato, o Governo de Goiás não respondeu à solicitação de reunião nem atendeu às reivindicações da categoria, que exige a reposição das perdas inflacionárias acumuladas nos últimos oito anos e melhorias nas condições de trabalho.
PARALISAÇÃO GEROU POLÊMICA
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De acordo com o Simego, os atendimentos considerados inadiáveis serão mantidos, conforme previsto em lei.
Detran-GO reforça posição e diz priorizar o cidadão
Em nota divulgada nesta terça-feira (30), o Detran-GO afirmou que sua resistência em autorizar reajustes nos valores dos exames visa exclusivamente proteger o cidadão. Segundo a autarquia, o processo de habilitação é, para muitos, a principal porta de entrada no mercado de trabalho e na mobilidade social. Por isso, já acionou o Ministério dos Transportes e a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) para discutir formas de baratear o custo da CNH.
A autarquia também reforçou que mantém diálogo aberto com as entidades representativas da categoria, que, segundo o órgão, foram recebidas diversas vezes nos últimos meses. Atualmente, o valor pago por exame médico é de R$ 90, diretamente ao profissional. O Detran-GO afirma que, mesmo com carga horária reduzida, seis horas diárias ou quatro horas e meia nas unidades Vapt Vupt: há casos de faturamento superior a R$ 38 mil por mês, somando R$ 228 mil no primeiro semestre de 2025.
No caso dos psicólogos, o valor por atendimento é de R$ 100, também pagos diretamente pelos candidatos. Em Aparecida de Goiânia, um profissional teria recebido R$ 19 mil em seis meses. A autarquia destaca ainda que os credenciados não são exclusivos do Detran-GO e podem definir suas próprias cargas horárias. A média diária de exames médicos no Estado é de 1.958, sendo 485 realizados em Goiânia. As unidades do Detran-GO possuem salas climatizadas e, no caso das clínicas credenciadas, a estrutura é de responsabilidade dos empresários.
Nova rodada de pressão
Esta é a segunda paralisação dos profissionais em menos de 15 dias. No último dia 15, os médicos também cruzaram os braços por 48 horas, o que provocou reação do Detran-GO. Na ocasião, o presidente da autarquia, delegado Waldir Soares, classificou o movimento como irregular e afirmou que os profissionais envolvidos poderiam sofrer punições, como suspensão ou até descredenciamento. “Não vamos ser tolerantes com médicos e psicólogos que agem dessa forma. Quem marcou atendimento, teve gasto, organizou a vida para ser atendido, não pode ser prejudicado”, disse.
Waldir argumentou que a paralisação fere as regras de credenciamento da autarquia. Segundo ele, por não serem servidores públicos efetivos, os médicos e psicólogos não têm direito à greve. “Eles não são servidores. São credenciados por livre e espontânea vontade, e credenciado não pode fazer greve. Isso não é permitido. Toda reivindicação é justa, mas há limites”, reforçou.
O presidente do Detran-GO também afirmou que o governo estadual havia aberto diálogo com os profissionais e oferecido prazo de 30 dias para discutir os reajustes, proposta que teria sido aceita em reunião com o governador em exercício, Daniel Vilela.
“Declarações são autoritárias e antidemocráticas”
À época, em nota oficial divulgada após as declarações do presidente do Detran-GO, o Simego respondeu às críticas e afirmou que a mobilização foi legal, legítima e aprovada em assembleia, dentro dos parâmetros estatutários. Para o sindicato, as falas de Waldir foram “autoritárias, antidemocráticas e ofensivas à liberdade sindical”.
“Tentar criminalizar ou punir esse movimento legítimo apenas demonstra a dificuldade da gestão em lidar com reivindicações justas daqueles que sustentam, com seu trabalho, a continuidade dos serviços prestados à população”, declarou a presidente da entidade, Franscine Leão. O Simego também alegou que os pedidos de reajuste são antigos e vêm sendo ignorados desde 2023.
De acordo com a entidade, o único contato com o governo ocorreu apenas após a aprovação da primeira paralisação, o que, para o sindicato, demonstra que o diálogo só foi aberto mediante pressão.
A entidade ainda criticou a fala de Waldir sobre o valor de R$ 90 por exame ser “suficiente” para atendimentos que durariam “1 ou 2 minutos”. Para o sindicato, o comentário demonstra “desprezo pela responsabilidade técnica, civil e ética dos profissionais”, uma vez que os exames exigem laudos, integração a sistemas e rigor técnico, não podendo ser comparados a uma consulta simples.
