
Durante a abertura do 60º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), nesta quinta-feira (17), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso voltado à juventude universitária, criticando o papel da elite no atraso histórico da educação brasileira e cobrando autocrítica da esquerda quanto à sua comunicação com a população.
“O Brasil foi o último país das Américas a ter uma universidade porque a elite achava que índio, escravo, não precisava estudar”, afirmou Lula, no auditório da Universidade Federal de Goiás (UFG), que recebeu cerca de 3 mil estudantes. “Esse atraso cobra um preço que estamos pagando até hoje.”
Lula reforçou a expansão dos institutos federais durante seus governos e afirmou que, ao final do atual mandato, terá implantado três vezes mais unidades do que nos cem anos anteriores. “Vamos espalhar mais institutos federais por esse país”, disse.
Dirigindo-se diretamente à militância estudantil, o presidente provocou o próprio partido e aliados. “O PT tem que se perguntar por que elegeu um presidente cinco vezes, mas só fez 70 deputados federais. Será que o povo está nos compreendendo?”, questionou. Segundo ele, é preciso formar uma base mais forte no Congresso para garantir as mudanças que o governo pretende implementar.
O discurso também teve tom nacionalista, com forte defesa da soberania brasileira frente a pressões externas, especialmente após a decisão do presidente americano Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.
“A gente não vai aceitar que um gringo venha mandar no presidente da República. Não aceitamos interferência nos nossos assuntos internos”, afirmou. Ele anunciou que o Brasil vai cobrar impostos de plataformas digitais americanas. “Não vamos permitir que as nossas crianças sejam vítimas de coisas de fora do nosso controle.”
Lula alertou sobre o uso de inteligência artificial na desinformação política, citando os EUA e a Argentina como exemplos de campanhas manipuladas por algoritmos. “Não queremos eleger inteligência artificial, mas inteligência humana”, disse.
Clima político e homenagem a vítimas
O evento também teve forte tom político contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e Trump. Estudantes entoaram palavras de ordem como “sem anistia e sem perdão, eu quero ver Bolsonaro na prisão”.
Lula chamou Bolsonaro e seu filho Eduardo de “traidores do século 20 e 21” pela articulação com Trump e minimizou as acusações de perseguição política. “Eles não pensaram nas consequências que essa taxação vai trazer para a indústria, a agricultura, os serviços, o salário do povo brasileiro.”
O Congresso da UNE teve início marcado por luto: cinco pessoas morreram em um acidente envolvendo veículos que transportavam estudantes do Pará para o evento. Lula prestou solidariedade em nota oficial e em encontro privado com integrantes da caravana. Os nomes das vítimas foram exibidos em homenagem no telão.
