
Com a chegada das férias escolares em julho e o aumento das temperaturas entre os meses de agosto e setembro, médicos de Goiás alertam para a crescente no número de acidentes causados por mergulhos em águas rasas. Segundo profissionais do Hospital de Urgências de Goiás Dr. Valdemiro Cruz (HUGO), a prática é comum em rios, cachoeiras e piscinas, e está associada, muitas vezes, ao consumo de álcool. Os acidentes podem resultar em lesões graves na coluna cervical, que causam paralisia permanente ou até morte.
Segundo a médica ortopedista Luna Mangueira, especialista em coluna, apesar de não ter dados numéricos oficiais, o aumento de ocorrências nessa época do ano é perceptível não só em Goiás, mas em todo o país. “Em julho aumenta por conta das férias, e em agosto e setembro, pelo calor. As pessoas vão mais para rios, cachoeiras, piscinas, fazem mais atividades aquáticas. É uma preocupação já consolidada. No ano passado, chegamos a atender quatro casos em uma única semana”, afirma.
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A maior parte das vítimas são jovens e adultos jovens, entre 15 e 40 anos, muitas vezes sob efeito de bebidas alcoólicas. “O álcool reduz o senso de perigo. As pessoas perdem a capacidade de julgamento e acabam agindo com imprudência. Também já tivemos acidentes com crianças, mas os casos mais comuns estão nessa faixa etária”, completa Luna.
Rios de águas turvas, cachoeiras e bordas de piscina são os locais com mais registros de acidentes. A médica alerta que a profundidade da água pode mudar conforme a época do ano, especialmente em rios, e o que era seguro antes pode se tornar uma armadilha. “É comum o leito do rio secar e a pessoa achar que conhece. Isso causa muitos acidentes. No caso das piscinas, elas não foram feitas para esse mergulho de ponta, porque geralmente têm apenas 1,5 metros de profundidade.”
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Prevenção
Conforme os médicos, a indicação é não fazer esse tipo de pulo, principalmente se a pessoa não tiver experiência. No entanto, ressaltam que, para aqueles que desejam praticar tal ato, é preciso garantir a segurança. Para isso, é necessário que o local tenha no mínimo de 2 a 3 metros de profundidade. Também é importante levar em consideração o peso e altura de quem vai pular, além de mergulhar antes para ver se a água “dá pé”.
Luna reforça, ainda, sobre o risco de misturar bebida alcoólica com atividades em água. Brincadeiras de empurrar ou jogar pessoas na água devem ser evitadas. “O álcool está por trás de boa parte dos acidentes. Essas brincadeiras também acabam em tragédia. A maioria dos casos acontece por descuido e imprudência, não por desconhecimento”, pontua.
Caso alguém sofra um acidente após o pulo, o ideal é retirar a vítima da água e manter o pescoço o mais imobilizado possível. “O mais importante é manter a cabeça estabilizada e acionar imediatamente o socorro. A forma de retirada da água pode fazer toda a diferença”, explica.
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Risco de tetraplegia
Segundo o médico André Luiz Cardoso, coordenador do Serviço de Cirurgia da Coluna do Hugo, na unidade de saúde, todo paciente com suspeita de lesão é avaliado inicialmente por meio do protocolo ATLS, que permite identificar rapidamente a gravidade do trauma e afastar riscos imediatos à vida. A partir dessa triagem, são realizados exames físicos e de imagem para definição da melhor conduta.
Nos casos mais graves, pode ser necessário o uso do halo craniano, dispositivo que promove a tração da coluna e o realinhamento das articulações. O médico explica que essa técnica reduz a compressão sobre a medula e evita complicações neurológicas mais severas. Após essa etapa, o paciente é monitorado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e, quando estabilizado, passa por cirurgia definitiva de fixação da coluna.
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Lesões mais severas costumam demandar internações prolongadas e podem evoluir com complicações, como infecções pulmonares, úlceras por pressão, tromboses e alterações no funcionamento do sistema nervoso autônomo. Outro desafio enfrentado pela equipe médica é o tempo decorrido entre o acidente e a chegada à unidade, já que muitos desses casos ocorrem em locais afastados. “Alguns pacientes chegam horas depois, já com complicações que reduzem as chances de recuperação. O ideal é que a descompressão da medula ocorra nas primeiras 48 horas”, alerta a médica Luna.
Recuperação
Após a cirurgia, o paciente inicia a reabilitação ainda no hospital. Quando recebe alta, segue o tratamento em unidades especializadas da rede estadual, como o Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação (CRER).
Luna relata casos de superação que marcaram sua carreira. “Já operei pacientes que chegaram totalmente imóveis e, seis meses depois, estavam andando. Mas também já atendi pacientes que chegaram estáveis, conscientes, e que o quadro clínico evoluiu causando o óbito antes mesmo da cirurgia.”
