
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras escancarou uma resposta direta à postura do governo Lula durante a cúpula do Brics, realizada na semana passada no Rio de Janeiro. O gesto, anunciado por meio de carta oficial enviada ao Palácio do Planalto, foi interpretado por especialistas como uma tentativa de conter o avanço do bloco e isolar iniciativas que desafiem a hegemonia do dólar.
A retaliação ocorreu menos de 24 horas após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defender publicamente a adoção de mecanismos de pagamento alternativos à moeda americana nas relações comerciais entre países em desenvolvimento. “Ninguém determinou que o dólar é a moeda padrão”, afirmou o petista na terça-feira (8), no encerramento da cúpula. “Quando for com a Argentina, não precisa passar. Quando for com a China, não precisa passar. Quando for com a Europa, discute-se em euro.”
O novo Brics — que agora inclui países como Arábia Saudita, Irã, Egito, Emirados Árabes Unidos e Etiópia — tem buscado protagonismo em temas como governança global, reforma do FMI e comércio multilateral. A retórica da cúpula girou em torno da construção de uma ordem econômica mais multipolar, com menor dependência de instituições dominadas pelos EUA.
Segundo João Alfredo Lopes Nyegray, coordenador do Observatório de Negócios Internacionais da PUC-PR, as falas de Lula funcionaram como um gatilho para a reação americana. “Trump vê qualquer tentativa de desafiar a centralidade do dólar como ameaça direta à arquitetura de poder dos EUA no pós-guerra. A resposta foi imediata e simbólica: punir o elo visível da contestação”, disse.
Trump, segundo analistas, aposta em uma lógica de diplomacia punitiva para desencorajar outros países de se alinharem ao discurso do Brics. A tarifação contra o Brasil não é apenas uma resposta a Lula, mas uma mensagem aos demais integrantes e aos candidatos a integrar o bloco.Shipping services
“O objetivo é claro: elevar o custo de desafiar a posição americana no sistema internacional. Ao mirar o Brasil, Trump dá o recado sem enfrentar diretamente China ou Rússia”, avalia Nyegray.
Para Luciano Muñoz, professor de Relações Internacionais do CEUB, a ampliação recente do bloco acentuou a percepção de ameaça em Washington. “O Brics virou um instrumento de sobrevivência para a Rússia e uma alavanca de influência global para a China. Para os EUA, trata-se de um eixo que precisa ser contido.”
