
Presidente da Frente Parlamentar Evangélica (FPE), o deputado federal Gilberto Nascimento (PSD-SP), 68, avalia que a relação entre o governo Lula (PT) e o eleitorado evangélico enfrenta um abismo ideológico difícil de ser superado. Em entrevista à Veja, o parlamentar afirmou que o PT “não entende a cabeça evangélica” e que há uma incompatibilidade entre a agenda da esquerda e os valores religiosos do segmento.
Nascimento, ligado à Assembleia de Deus e com trajetória política desde os anos 1980, critica especialmente o apoio do governo a pautas como legalização do aborto, drogas, jogos de azar e terapia hormonal para crianças. “O fato de a bancada governista se posicionar a favor de temas como esses nos agride”, afirmou.
A Frente Parlamentar Evangélica reúne 202 deputados e 26 senadores e passou por eleições internas neste ano, em razão de divergências no campo bolsonarista. Nascimento venceu com apoio até de parlamentares do PT, mas mantém posição crítica à legenda. Para ele, o esforço petista em adaptar sua linguagem para dialogar com evangélicos — como cursos de formação política voltados ao segmento — não será eficaz. “Não basta mudar a linguagem e seguir na mesma tecla ideológica”, disse.
O deputado também vê na política internacional do governo um fator de rejeição. Citou aproximação com países como Irã e Venezuela como sinal negativo para cristãos. “Isso ecoa no eleitorado”, afirmou.
Sobre temas legislativos, Nascimento defende limite de até 90 dias para a realização do aborto legal em casos de estupro, critica a união civil entre pessoas do mesmo sexo, e afirma que a FPE continuará se opondo a esses temas, ainda que respeite o que já está garantido por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na avaliação do deputado, o governo erra ao se distanciar de pautas conservadoras. Ainda assim, rejeita que as pontes com a esquerda tenham sido “queimadas”, mas cobra mudanças de postura por parte de ministérios.
Sobre os réus condenados pelos atos de 8 de janeiro, Nascimento defende anistia parcial. “É complicado dizer que todos estavam ali para quebrar tudo. Não se pode dar 14 ou 15 anos de prisão a quem não causou dano ao patrimônio”, afirmou. Ele diz ainda que, em sua visão, Jair Bolsonaro “não cometeu crime”.
Por fim, Nascimento afirma que o crescimento evangélico segue forte, apesar de dados do IBGE indicarem desaceleração. “Esses números não refletem a realidade. Pela minha experiência, eles são bem maiores.”
