
Além dos números de desaprovação captados por institutos de pesquisa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta um novo termômetro de desgaste: o esvaziamento digital. Levantamento feito pela consultoria Ativaweb aponta que, nos últimos seis meses, as contas oficiais de Lula no Instagram e no Facebook perderam mais de 1 milhão de seguidores — reflexo direto da repercussão negativa do escândalo de fraudes no INSS e do mal-estar causado pelo aumento do IOF.
Somente em abril, auge da “farra dos descontos” contra aposentados, Lula perdeu 240 mil seguidores. Segundo a Ativaweb, o caso gerou 2,88 milhões de menções em 24 horas, 79% delas negativas. Palavras como “roubo”, “omissão” e “despreparo” dominaram os comentários. Para o pesquisador Alek Maracajá, CEO da consultoria, o episódio simbolizou “o gatilho final de um desgaste que já vinha se acumulando desde o início do ano”.
“Houve uma falha grave de escuta ativa e resposta rápida. O governo deixou vácuo de comunicação, permitindo que a narrativa fosse dominada por vídeos emocionais, memes e desinformação, que inflamaram a opinião pública”, avaliou.
O anúncio do aumento do IOF, que acabou parcialmente revogado na mesma noite, provocou o maior índice de rejeição ao presidente nas redes em 2024: 89% das menções ao episódio foram negativas. A insatisfação, segundo os dados, se dirigiu tanto a Lula quanto ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Chama atenção o fato de o maior volume de reações vir do Nordeste (28,4%), base histórica do PT, que tradicionalmente confere ao partido os maiores índices de aprovação. A região foi seguida por Norte (20,3%) e Sudeste (18,7%). O cientista político Renato Dorgan, do Instituto Travessia, afirma que a reação às crises reforçou duas das narrativas centrais da oposição: o retorno da corrupção e o aumento de impostos.
“Esses episódios funcionam como gatilhos de memória. O caso do INSS ecoa o desgaste ético do passado, enquanto o IOF reforça a imagem de um governo arrecadador. O governo tem dado material para a direita alimentar traumas ainda latentes em parte do eleitorado”, analisou.
O impacto das crises também se alastrou para a imagem da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja. Em maio, declarações controversas sobre redes sociais, feitas durante encontros com o presidente chinês e em podcasts, geraram picos de rejeição: 73% de menções negativas em um dos casos, segundo a Ativaweb.
Em grupos de WhatsApp analisados pela consultoria Palver, a proporção foi de 456 menções a Janja por 100 mil mensagens — 60% delas negativas. A defesa da regulação das redes “nos moldes chineses” também repercutiu mal, embora o impacto tenha sido ligeiramente atenuado pela campanha #EstouComJanja, lançada pelo PT para conter o desgaste.
Para o estrategista digital Luis Fakhouri, a figura da primeira-dama tornou-se “personagem útil” à oposição. “Janja virou alvo simbólico. Criticar Janja é criticar Lula por tabela, e isso se torna mais eficaz em momentos nos quais há tensão diplomática, como a aproximação com a China.”
