
Segundo o Metrópoles, o empresário Maurício Camisotti, investigado por suposto envolvimento no esquema bilionário de descontos irregulares em aposentadorias do INSS, movimentou ao menos R$ 360 milhões em operações financeiras com indícios de irregularidade entre 2016 e 2024, segundo dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Ao todo, Camisotti e sete familiares próximos somaram cerca de R$ 787,5 milhões em transações consideradas suspeitas por instituições financeiras e cartórios.
Os dados constam de Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) enviados pela Coaf à Polícia Federal e anexados aos inquéritos da Operação Sem Desconto, que investiga o uso indevido de entidades associativas para realizar descontos em benefícios previdenciários. Os relatórios apontam que as movimentações, embora não necessariamente ilegais, exibem padrões atípicos e sinais compatíveis com lavagem de dinheiro ou outras condutas ilícitas.
Camisotti está ligado a pelo menos três entidades sob investigação — Ambec, Cebap e Unsbras — e, segundo a PF, teria recebido R$ 43 milhões dessas associações por meio de suas empresas. Sua esposa, Cecília Montalvão Simões, é sócia da Benfix, empresa contratada para “modernizar” a gestão das entidades. Juntas, as movimentações sob suspeita atribuídas a Cecília e familiares chegam a R$ 295 milhões.
A teia societária se expande por diversos membros da família. O filho do casal, Paulo Otávio Montalvão Camisotti, é sócio da Rede Mais Saúde, que teria movimentado R$ 18 milhões entre agosto de 2023 e maio de 2024 com recursos provenientes de entidades investigadas. Já o irmão de Maurício, Mário Camizotti Filho, movimentou R$ 5,9 milhões apenas em 2022. Outros parentes — como cunhadas, sobrinhos e primos — também ocupam cargos em associações envolvidas na fraude.
Segundo a apuração da PF, Ademir Fratic Bracic, sobrinho de Maurício, foi o primeiro presidente da Ambec — associação que já arrecadou quase R$ 500 milhões em descontos de aposentadorias desde sua fundação. A entidade também teve, em sua diretoria, o pai e uma prima do empresário. Já Soraia Barboza Camizotti, esposa de Mário, aparece como ex-presidente de uma associação que tentou, sem sucesso, obter autorização para aplicar os mesmos descontos.
Em nota, a defesa de Camisotti classificou os valores citados como “artificialmente inflados” e afirmou que as operações têm lastro, são legais e foram devidamente declaradas aos órgãos de controle. “Os relatórios sobrepõem registros de entrada e saída de recursos, contabilizando diversas vezes a movimentação de um mesmo montante”, alegam os advogados. Segundo eles, parte significativa das movimentações ocorreu antes de a empresa de Camisotti prestar serviços às associações.
A Operação Sem Desconto, deflagrada em abril, revelou a existência de entidades de fachada, criadas para intermediar os descontos diretamente na folha de pagamento do INSS — muitas vezes sem conhecimento dos beneficiários. Estima-se que o esquema tenha gerado prejuízos bilionários e envolva agentes públicos, dirigentes associativos e operadores financeiros com conexões políticas.
Com os indícios levantados pela PF e os relatórios do Coaf, cresce a pressão sobre o Ministério da Previdência e o INSS para revisar os contratos autorizados e bloquear o repasse de recursos a entidades suspeitas.
