
A revelação de que parlamentares estariam supostamente envolvidos no esquema bilionário de fraudes contra aposentados do INSS provocou surpresa e desconforto nos bastidores do governo Lula (PT). Segundo reportagens divulgadas por Lauro Jardim, em O Globo, e Julia Duailibi, no G1, a Polícia Federal teria encontrado indícios da participação de deputados e senadores na chamada “farra dos descontos indevidos”.
A repercussão foi imediata — e, dentro do próprio governo, causou mais espanto do que reação. “Desconheço essa situação”, afirmou um delegado da cúpula da PF, que acompanha de perto o caso. Um ministro do alto escalão, ao ser questionado, reagiu de forma igualmente perplexa: “Fiquei foi surpreso com essa notícia!”
Até o momento, nem o Ministério da Previdência Social, nem a Advocacia-Geral da União (AGU) foram notificados formalmente sobre a suposta ramificação política da fraude. Fontes dos dois órgãos admitem, nos bastidores, que não receberam qualquer alerta oficial da PF a respeito da participação de congressistas. E, enquanto a cúpula do governo reage com cautela, cresce a expectativa de que novos desdobramentos possam alterar o rumo das investigações.
A ausência de informações formais aumentou a tensão interna no governo. Isso porque, se confirmada, a participação de parlamentares obrigará a Polícia Federal a transferir o caso para o Supremo Tribunal Federal (STF), responsável por julgar autoridades com foro privilegiado. A mudança de foro pode trazer repercussões políticas mais sensíveis, além de comprometer o discurso de controle e transparência que o Planalto tenta sustentar.
Desde a deflagração da Operação Sem Desconto, no final de abril, o governo já vinha lidando com os efeitos da crise: o afastamento de dirigentes do INSS, a saída do então ministro da Previdência, Carlos Lupi, e o impacto orçamentário potencial das fraudes, estimadas em mais de R$ 6 bilhões. A inclusão de nomes do Congresso, no entanto, eleva o escândalo a outro patamar.
No Planalto, a leitura é de que a denúncia — ainda sem confirmação oficial — pode ser explorada por adversários do governo em um momento de fragilidade fiscal e aumento das pressões sobre a base aliada. Ministros que acompanham o caso afirmam que não há, até agora, provas concretas ou citações nominais que justifiquem o envio da investigação ao STF.
Mesmo assim, a apreensão é evidente. “Se esse envolvimento for real, estamos diante de algo muito mais profundo do que imaginávamos”, admitiu um assessor próximo ao núcleo político do presidente Lula.
