
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) realizou uma operação hacker contra autoridades do Paraguai durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o objetivo de acessar informações sigilosas relacionadas às negociações do Anexo C da hidrelétrica binacional de Itaipu. A invasão, ocorrida em 2023, foi executada meses antes da assinatura do novo acordo entre os dois países, em maio de 2024, e teve como alvo computadores do Congresso, do Senado e da Presidência paraguaia. A informação foi divulgada pelo portal UOL.
O planejamento da ação teve início em junho de 2022, ainda no governo Jair Bolsonaro, mas a execução, segundo apuração do UOL, ocorreu sob a gestão do atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa, nomeado por Lula e empossado em 29 de maio de 2023. De acordo com depoimentos prestados à Polícia Federal, Corrêa não apenas autorizou a operação, como teria se entusiasmado com sua execução. “Luiz Fernando teria vibrado, gostou muito, que era a primeira vez que se sentia numa atividade de inteligência”, relatou um dos agentes da Abin envolvidos na missão.
A operação usou o software Cobalt Strike para capturar senhas e dados de autoridades diretamente envolvidas nas tratativas sobre os valores pagos pelo Brasil pela energia excedente de Itaipu. Agentes da Abin realizaram três viagens internacionais — ao Chile e ao Panamá — para configurar servidores e lançar os ataques de fora do território brasileiro.
Apesar da gravidade do caso, o Ministério das Relações Exteriores alegou que a operação foi autorizada no governo anterior e que teria sido suspensa oficialmente em 27 de março de 2023, sob direção interina da Abin. A nota afirma que “o governo do presidente Lula desmente categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência contra o Paraguai”.
No entanto, os relatos colhidos pela Polícia Federal indicam que a ofensiva digital foi mantida e executada já durante o novo governo. A ação ocorreu no contexto das renegociações do Anexo C, que define as bases financeiras da comercialização de energia de Itaipu — tema sensível na relação entre Brasil e Paraguai. O novo acordo, fechado em maio de 2024, elevou o valor pago ao país vizinho, mas ficou aquém das exigências paraguaias.
A investigação da PF, inicialmente voltada a abusos cometidos na Abin durante o governo Bolsonaro, revelou indícios de continuidade de práticas irregulares na gestão seguinte, ampliando o escopo do inquérito. A revelação gera constrangimento diplomático e expõe uma disputa interna no governo entre a Abin, comandada por Corrêa, e a atual direção da Polícia Federal, insatisfeita com a nomeação.
