O apoio diplomático do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a países como China e Rússia pode comprometer a estratégia militar de defesa do Brasil, alertam analistas. Tradicionalmente alinhado com nações do Ocidente, o Brasil depende majoritariamente de tecnologia militar originária de países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Esse descompasso entre a política externa brasileira e suas alianças militares históricas levanta preocupações sobre a capacidade de manutenção e renovação do seu arsenal.
O cenário se agrava com a escalada de tensões entre Israel e Irã, marcada pelo lançamento de mais de 200 m1sseis e drones por Teerã contra Israel neste fim de semana. A resposta incluiu intervenção direta dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, refletindo a complexa rede de alianças militares que não inclui os novos aliados diplomáticos do Brasil. “Os russos e os iranianos formam um eixo anti-Ocidente ao lado de Rússia, China e Coreia do Norte”, afirma o Itamaraty.
Fontes reforçam que, apesar da cooperação com nações como Estados Unidos, França e Alemanha na área de defesa, o recente posicionamento político do Brasil poderia isolar o país em termos de suprimentos militares, uma vez que não é possível alterar os fornecedores de armamento no curto a médio prazo.
Jorge Luiz Schwerz, coronel aviador veterano da Aeronáutica e mestre em Guerra Eletrônica, explica: “O Brasil é um parceiro da Otan, o que permite a compra de armamentos estratégicos e a participação em exercícios militares conjuntos, mas sem participar de operações da organização”.
A independência do Brasil em relação à Otan, adquirida ainda durante a gestão de Jair Bolsonaro e Donald Trump, não significa uma adesão plena, mas garante uma posição privilegiada nas discussões de defesa. “Essa escolha política mantém o Brasil em uma linha de neutralidade tradicionalmente adotada até o início do terceiro mandato presidencial de Lula”, adiciona Schwerz.
O alinhamento do presidente Lula com nações contrárias aos interesses ocidentais e suas críticas à hegemonia do dólar têm reverberado negativamente entre os parceiros tradicionais do Brasil. Isso inclui seu apoio anterior ao Irã em negociações nucleares, contrariando os interesses dos Estados Unidos, que bloquearam a iniciativa.
Nelson Ricardo Fernandes, especialista em gestão de riscos e sócio-fundador da Arp Digital Consulting, destaca a necessidade de alinhamento entre o Itamaraty e o Ministério da Defesa: “É essencial que a estratégia militar e a política externa caminhem lado a lado para garantir uma política de Estado consistente através das mudanças de governo”.
O equilíbrio entre a neutralidade diplomática e a parceria militar com o Ocidente, que prevaleceu até 2023, está agora sob tensão, com possíveis implicações na manutenção das capacidades militares do Brasil. As parcerias estratégicas do país, que incluem a construção de submarinos com tecnologia francesa e a aquisição de caças e armamentos dos EUA e Suécia, podem enfrentar desafios se o país se distanciar de seus aliados tradicionais.