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Mãe reencontra filho cinco meses após dar à luz intubada e com Covid-19
Coronavírus
Publicado em 17/08/2021

O cordão umbilical que ligava Cristiane Bonatto, 29, ao filho Heitor foi cortado em 21 de março. Mas os dois se reencontraram pessoalmente cinco meses depois, nesta quinta-feira (12).

 

A Covid-19 foi a responsável por separar os dois. Grávida de seu terceiro filho, Cristiane foi internada com a doença em 16 de março na Santa Casa da cidade de Assis (435 km de São Paulo). Quatro dias depois, estava intubada.

 

O agravamento da doença fez os médicos decidirem antecipar o parto. Heitor nasceu prematuro, com 26 semanas, enquanto Cristiane estava inconsciente.

 

Ao nascer, ele não foi para os braços da mãe, mas para uma ambulância na qual foi transferido para a Santa Casa de Presidente Prudente, a 145 km dali.

 

Mãe e filho enfrentaram percalços até o reencontro. Cristiane padeceu de sequelas graves da Covid-19. Heitor teve uma recuperação difícil, que incluiu uma cirurgia cardíaca.

 

Veja o relato da mãe

Tenho três filhos: a Helena tem três anos, o Henrique tem um ano e oito meses e o Heitor vai fazer cinco meses. Estava com 26 semanas da minha terceira gravidez quando contraí a Covid-19.

 

 

Comecei a sentir os primeiros sintomas em 10 de março. Primeiro, foi a garganta incomodando e tosse. Depois vieram a febre e os calafrios. Em 14 de março, recebi o resultado positivo do teste. Naquela época, ainda não estavam vacinando as grávidas.

 

Fui me tratando do jeito que dava, né? Aquela correria, com dois filhos pequenos e grávida do terceiro. Mas comecei a sentir um cansaço e fui para hospital.

 

Achava que ia ficar um ou dois dias. Mas precisei de oxigênio e fui transferida para a Santa Casa de Assis. O quadro se agravou e não tinha UTI disponível. A equipe médica improvisou uma salinha e lembro de ter visto na bancada alguns aparelhos de intubação. Ali, eu fiquei com muito medo.

 

Lembro que eu chamei uma enfermeira e pedi para ela ficar comigo. Ela sentou do meu lado da cama e ficou passando a mão na minha cabeça, falando que ia ficar tudo bem. Peguei no sono e depois disso, não lembro de mais nada.

 

Depois foi que eu soube que a minha saturação teve uma queda muito brusca e a médica decidiu me intubar. Isso foi em 20 de março.

 

Diante da gravidade do meu quadro, os médicos decidiram antecipar meu parto. Heitor nasceu prematuro no dia 21 de março, com 900 g e 36 cm. Eu estava inconsciente.

 

Ele foi de ambulância para Santa Casa de Presidente Prudente. Na noite após o parto, eu fiquei muito ruim. A médica me contou que sentou do meu lado na cama, com o carrinho de ressuscitação do lado, esperando a hora que eu teria uma parada cardíaca e ela teria que me ressuscitar.

 

Estava 70% dos pulmões comprometidos e precisando fazer hemodiálise. Mas, por um milagre de Deus, meus rins voltaram a funcionar. Foi uma coisa inexplicável, me disseram os médicos. Aos poucos, meu quadro foi progredindo.

 

Não lembro exatamente do dia em que eu acordei. Depois, soube que fiquei 38 dias na UTI, sendo 23 deles intubada. Mas ainda estava muito confusa, não tinha noção de nada, não sabia nem quantos filhos eu tinha.

 

As pessoas imaginam que eu acordei, botei e mão na barriga e perguntei onde estava meu filho. Mas não foi assim, eu fui recobrando a consciência aos poucos. Foi uma coisa muito natural.

 

Eu lembro que sonhei muito enquanto estava inconsciente. Tive muito sonho com parto, sonhava que tinha muitos filhos.

 

Todo dia alguém me visitava: meu marido, meu pai, minha mãe, minha sogra. E eles iam falando do Heitor e faziam chamadas de vídeo para mostrá-lo. Aí que fui entendendo o que tinha acontecido.

 

Tive muitas sequelas, mas não tinha a menor noção da gravidade do meu quadro. Me dei conta quando a fisioterapeuta tentou me colocar de pé e eu não consegui me sustentar. Meu corpo não respondia.

 

Tive alta em 3 de maio. Quando fui para casa, achei que em dez dias estaria andando. Mas passou dez dias, passou um mês, passou dois meses e nada.

 

Eu não tinha movimentação das pernas, não tinha controle do tronco e, por ter ficado muito tempo acamada, estava com uma ferida nas costas bem grande e bem profunda. Também perdi a audição no ouvido esquerdo.

 

Precisei de cama hospitalar em casa, cadeira de banho, cadeira de roda, usar fralda. As pessoas me carregavam nos braços mesmo.

 

Às vezes eu falava para meu pai ou para minha mãe: “Anda. Deixa eu ver como é que seu pé faz para andar”. Uma coisa que para a gente é tão básica começa a ter muito valor. Hoje, três meses depois da minha alta, eu ando, mas ainda preciso do apoio do andador.

 

Enquanto eu me recuperava, o Heitor continuava no hospital em Presidente Prudente. Ele teve que passar por uma cirurgia no coração quando tinha 30 dias. Precisou ser intubado três vezes.

 

Eu não estava preparada fisicamente para viajar e visitá-lo. Mas meu pai sempre falava: “Cris, você e o Heitor estão caminhando juntos. Na hora que for para vocês dois se encontrarem, vai ser”.

 

Tive que acompanhar à distância. Todo dia 21, quando ele completava mais um mês, o pessoal da equipe médica levava um bolinho para ele. Faziam uma chamada de vídeo e a gente cantava parabéns junto.

 

Isso ajudou muito a minha recuperação. Foi um período de altos e baixos. Tinha dias que eu ficava muito deprimida. Pense que eu era uma pessoa sem problema de saúde, que fazia atividade física. E, de repente, eu me vi em uma cama sem fazer nada, totalmente dependente.

 

O quadro de Heitor foi progredindo até que marcaram a alta dele para 12 de agosto. E aí fui lá. Quando chegamos, a equipe médica tinha preparado uma festa com balões, todo mundo com adereços de super-herói. Compraram até uma roupinha de super-homem para ele. Foi um momento lindo.

 

Agradeço a Deus por ele ter vindo para casa em uma hora em que eu já tenho uma consciência corporal muito melhor. Mesmo com dificuldade, eu consigo ter o controle para pegar ele no colo.

 

Se ele tivesse vindo assim que eu saí do hospital, teria sido uma loucura. Eu provavelmente ia querer pegar ele no colo, amamentar e não ia conseguir. E isso ia gerar uma frustração enorme. Nada acontece por acaso.

 

Agora, eu quero aproveitar muito a minha família. Meu maior desejo é conseguir ficar de pé sozinha e poder sentar no chão para brincar com os meus filhos.

 

A minha sensação é de que eu nasci de novo. Por isso, me sinto uma guerreira. E o Heitor já mostra uma garra para a gente também. Ele me salvou, né? Ele salvou a minha vida.

FolhaPress

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