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Obstrução intestinal de Bolsonaro pode ser resultado de cirurgias anteriores; entenda
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Publicado em 15/07/2021

Uma hipótese de causa da obstrução intestinal diagnosticada no presidente Jair Bolsonaro são as aderências (partes do intestino que ficam coladas) decorrentes do seu histórico de intervenções cirúrgicas após a facada que sofreu em setembro de 2018.

 

Toda vez que um paciente se submete a uma cirurgia intestinal é muito comum surgirem aderências no local. E, por isso, ele passa a ter risco para o resto da vida de sofrer obstruções.

 

“Elas podem acontecer nas primeiras semanas, nos primeiros anos, demorar dez anos. Tem paciente que opera hoje e daqui a duas semanas vem com aderência obstruindo, tem paciente que operou há 30 anos e que chega obstruído”, relata o cirurgião do aparelho digestivo Diego Adão Fanti Silva, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

 

Por que essas aderências surgem? O peritônio, que é a camada que reveste todo o abdômen, o intestino e as alças intestinais, é uma membrana viva. Ele inflama mediante qualquer contato com um corpo estranho.

 

“Se colocar um fio cirúrgico no peritônio, ele inflama, se cair poeira do meio ambiente, ele inflama. Se cair uma gota de sangue, inflama. A facada que o presidente levou, inflamou. E o processo de cicatrização gera a aderência. Ele espessa e gruda.”

 

A molécula envolvida nesse processo chama-se fibrina, uma cola biológica. Por exemplo, quando você faz um corte na mão e coloca um algodão no local, ele vai grudar. Esse “grude” é a fibrina, a resposta do organismo a uma inflamação.

 

 

No caso de Bolsonaro, onde o abdômen e o intestino foram cortados, foram geradas aderências e corrigidas em cirurgias anteriores. “Mas sempre sobra. Nunca você consegue voltar o que era antes. E quanto mais operar, mais aderências vai ter”, diz o cirurgião.

 

O presidente também vinha se queixando de uma hérnia que teria que operar, essa também gerada pelas múltiplas incisões.

 

“É um abdômen que a gente chama de hostil, difícil, que, com certeza, tem muita aderência. Isso faz que surja uma obstrução no intestino em algum momento”, explica Silva.

 

E qual a relação desse quadro com as crises de soluço que o presidente vinha apresentando? Se o intestino já estava obstruído, o estômago passou a se dilatar. Por quê?

 

Quando comemos, produzimos saliva. O estômago fabrica suco gástrico, enquanto o fígado e o pâncreas produzem sucos biliares e pancreáticos. Isso tudo equivale a dois litros por dia e precisa ser absorvido pelo intestino.

 

Se houver uma interrupção intestinal por uma aderência, essa absorção não acontece e esse líquido volta para o estômago. “É um cano entupido”, compara Silva.

 

Em 80% dos casos, essas aderências, também chamadas de bridas, podem se desfazer sozinhas em 48 horas. Coloca-se uma sonda, retira-se todo o líquido acumulado e o intestino desincha. O paciente recebe hidratação para repor os sais minerais perdidos, como sódio e potássio.

 

Aqueles casos que não são resolvidos vão precisar de uma cirurgia de emergência. Nessas situações, pode acontecer de a alça intestinal, além de estar obstruída, sofrer uma torção e perfurar. No jargão médico, o quadro é chamado de “brida complicada”.

 

“É uma cirurgia de extrema dificuldade, tem que achar essas aderências, ir soltando. São cirurgias bem demoradas, de cinco a seis horas.”

 

Como essa intervenção pode gerar novas aderências e lesionar outras alças intestinais, os médicos costumam ser muito conservadores na indicação.

 

Outra possibilidade que poderia explicar a obstrução intestinal de Bolsonaro é uma hérnia encarcerada —a região do corte de cirurgias anteriores não cicatriza de forma eficaz. Quando isso ocorre, o intestino sai de dentro do peritônio para a região subcutânea.

 

Ocorre que, em algum momento, dentro dessa hérnia, o intestino pode se torcer e ficar obstruído. Antes de uma cirurgia, é possível tentar colocar essa hérnia para dentro. Mas se houver uma perfuração, é preciso operar.

 

Essas são as duas principais hipóteses, mas somente o cirurgião Antônio Macedo, que acompanha o presidente Bolsonaro, poderá dar mais informações sobre o caso. Procurado, ele não retornou as ligações da reportagem.

FolhaPress

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