Depois de meses de esforços e de mais de mil armadilhas espalhadas pela região noroeste dos Estados Unidos, cientistas do Departamento de Agricultura do Estado de Washington (WSDA, na sigla em inglês) conseguiram capturar pela primeira vez uma vespa gigante asiática (‘Vespa mandarinia’).
Apelidadas por cientistas de “vespas assassinas” por sua letalidade, essas vespas nativas da Ásia haviam sido identificadas pela primeira vez nos Estados Unidos em dezembro do ano passado, gerando apreensão entre apicultores e entomologistas americanos pelo risco que representam à população local de abelhas.
Desde que foram vistas na região, autoridades locais lançaram um grande esforço para tentar localizar essa espécie invasora, com o objetivo de destruir os ninhos antes que ela se estabeleça nos Estados Unidos. Moradores e apicultores se uniram aos esforços, espalhando mais de 1,3 mil armadilhas pela região.
No dia 14 de julho, uma dessas vespas foi capturada em uma armadilha instalada pelo WSDA no condado de Whatcom. Depois de análises em laboratório, cientistas confirmaram no dia 29 de julho que realmente se tratava de uma vespa gigante asiática.
Esta foi a primeira vespa gigante asiática capturada em uma armadilha na região. Até então, haviam sido identificadas outras cinco vespas no Estado de Washington, mas todas encontradas na natureza, por acaso.
“Isso é muito encorajador, porque significa que as armadilhas funcionam”, disse o entomologista Sven Spichiger, do WSDA. “Mas também significa que temos muito trabalho pela frente.”
Risco à população de abelhas
Segundo cientistas do WSDA, as vespas gigantes asiáticas são as maiores do mundo, podendo medir mais de 5 cm, e são capazes de destruir uma colmeia de abelhas em poucas horas.
Apesar de salientarem que elas só atacam humanos caso sejam provocadas ou se sintam ameaçadas, cientistas afirmam que essas vespas têm uma picada extremamente dolorosa e liberam uma toxina tão potente que pode causar a morte de uma pessoa que tiver levado várias picadas, mesmo se não for alérgica.
Mas o risco principal é para a população local de abelhas – que já está em declínio por causa de fatores como doenças, uso de pesticidas e perda de habitat – e que é fundamental não apenas para a produção de mel, mas também para diversos cultivos que dependem de polinização, como maçã, mirtilo, amêndoas, cereja e framboesa.
O entomologista do WSDA afirma que os próximos meses serão cruciais para erradicar os ninhos dessa espécie invasora enquanto sua população ainda é pequena.
A meta é encontrar e destruir os ninhos até meados de setembro, antes que as vespas se reproduzam tanto que a erradicação fique impossível.
O ciclo de vida da vespa gigante asiática começa em abril, quando as rainhas emergem da hibernação e passam a procurar um local para construir seus ninhos e formar suas colônias. O período de julho a outubro (fim do verão e início do outono no Hemisfério Norte) é considerado o melhor para capturá-las.
O WSDA vai usar câmeras infravermelhas para procurar por ninhos e instalar novas armadilhas com o objetivo de capturar e manter as vespas vivas. Nesse caso, as vespas poderão ser rastreadas até sua colônia, que será, então, destruída.
Sem defesa natural
Ainda não se sabe como as vespas gigantes asiáticas chegaram aos Estados Unidos. Uma das teorias é a de que tenham sido transportadas em navios de carga. Também podem ter sido trazidas deliberadamente.
Em agosto de 2019, uma dessas vespas já havia sido detectada no Canadá, na província de British Columbia, que faz fronteira com o Estado americano de Washington. No fim do ano passado, apicultores americanos na região começaram a encontrar suas colmeias destruídas, com milhares de abelhas decapitadas.
Segundo os cientistas do WSDA, as abelhas nos Estados Unidos não têm mecanismo de defesa natural contra as vespas gigantes asiáticas. Até três vezes maiores que as abelhas, essas vespas invadem e ocupam as colmeias, matam as abelhas adultas e devoram as larvas e pupas. Em poucas horas, cerca de 30 vespas gigantes asiáticas conseguem dizimar uma colmeia inteira.
Apicultores e outros moradores interessados estão sendo orientados sobre como montar armadilhas caseiras em suas propriedades. Caso uma vespa gigante asiática seja capturada viva, o WSDA pede para ser informado imediatamente.
“Como o número de vespas gigantes asiáticas operárias aumenta à medida que a colônia se desenvolve, moradores (do estado de Washington) terão mais chance de ver uma delas em agosto e setembro”, alerta o WSDA.
Mas os cientistas advertem os moradores para que não tentem matar as vespas por conta própria nem tentem remover os ninhos e que, caso encontrem os insetos, entrem em contato com as autoridades.
“Providencie o maior número de detalhes possível sobre o que você viu e onde. E também inclua uma foto, caso consiga obter uma de maneira segura. E, se encontrar uma vespa morta, guarde para possíveis testes”, diz o departamento em comunicado.
Do FolhaPress | Em: 03/08/2020 às 21:01:07