Muitas vezes, buscamos cases internacionais ou americanos de Gestão e Liderança, sem nos darmos conta dos belos exemplos regionais, com plena expansão de franquias por todo território nacional.
Imagine, então, uma empresa com quase 4 décadas de existência (presente em 5 estados, com mais de 50 lojas que empregam diretamente 850 pessoas, 200 delas em Goiânia).
Tudo isso é sinônimo de perenidade e solidez, num mercado tão volátil, correto? Sim, estamos falando da Farmácia Artesanal, empresa goiana fundada em 10 de maio de 1981 pelo farmacêutico Evandro Tokarski.
Tive a oportunidade, num dos MBAs que cursei – o de Liderança e Gestão Organizacional (FranklinCovey), de participar de alguns módulos com a filha Naiana Tokarski e também com o próprio Evandro. Em comemoração ao aniversário de 39 anos da empresa, fui convidada pela Naiana para entrevistar o fundador numa live transmitida pelo Instagram.
Com tanta vivência no ramo farmacêutico de manipulação, a empresa mostra que é um case de sucesso na área com o qual podemos aprender muito sobre gestão, liderança e comunicação.
Acompanhe a entrevista, que dividi em cinco temáticas (Aniversário, lições da pandemia, liderança, gestão de pessoas e visão de futuro).
Aniversário de 39 anos (2020)
Maraísa Lima – Como era o Evandro empreendedor que decidiu, em 10 de maio de 1981, começar a Farmácia Artesanal? E qual foi a motivação naquele momento?
Evandro Tokarski – Quero contar um pouco da minha história pessoal. Venho de uma família humilde, sempre estudei em escolas públicas, andava normalmente até meus 3 anos, quando tive paralisia infantil.
Desde pequeno tive grandes desafios pela frente, fiz diversas cirurgias, fisioterapia, tudo para poder me locomover com maior facilidade.
Pelo fato de estar em contato, desde criança até a adolescência, com hospitais médicos, farmacêuticos, enfermeiras, comecei a sonhar em ser um profissional da área de saúde.
Em vê-los se dedicando e cuidando da saúde das pessoas, escolhi a Farmácia como área de atuação. Me formei na UFG, e sempre como muito entusiasmo, montei a Artesanal.
Maraísa Lima – Como foi chegar até aqui neste aniversário de 39 anos?
Evandro Tokarski – Se reinventando! Passei por 8 crises e soube superá-las, dando importância às pessoas que fizeram parte, da formação e qualificação da equipe e do meu autoconhecimento, o que passou por fazer cursos e as 6 pós-graduações (inclusive conheci você no IPOG).
Ou seja, desde a década de 90, escrevemos e reescrevemos o posicionamento estratégico. E o mais importante conseguimos a confiança de médicos e passamos a ser a escolha dos nossos clientes, nos mercados que estamos presentes.
Maraísa Lima – Assisti a um vídeo em que você conta que, lá atrás, começou com o desejo de criar uma forma especial e personalizada para as pessoas. E isso se transformou no propósito da Artesanal. Que ações diárias demonstram que vocês estão conseguindo alcançar essa missão?
Evandro Tokarski – O que fazemos na prática para criar esse ambiente único?
Desde o treinamento inicial, período de ambientação a gente já faz diferente. A pessoa não chega e já recebe o crachá e vai para o seu ambiente de trabalho.
Existe um processo de experiência, que passa por conhecer a história, a missão, conhecer os laboratórios, o propósito…
Além da equipe de gestão de pessoas conduzir esse diálogo com quem chega, conta também com a participação dos outros setores, inclusive eu mesmo compartilho a história, as metodologias e os objetivos.
Assim, o novo colaborador entende o cenário e também pode, e deve, contribuir com novas ideias, projetos etc.
O mais recente projeto que tem a ver com criar ambiente personalizado foi o projeto Hackaton Artesanal. Foi um programa que fizemos em novembro e dezembro do ano passado com o objetivo de pensar soluções voltadas ao nosso cliente, para se reinventar e as pessoas se inscreveram.
Fizemos em um ambiente bem inovador, que tem presentes startups, que é o Hub do Cerrado. Tivemos como convidados amigos, colegas empresários e empreendedores que somaram muito compartilhando boas práticas e votaram nos projetos apresentados.
Foi uma experiência marcante para quem participou, e, na prática, saíram soluções voltadas ao nosso posicionamento.
Maraísa Lima – É um desafio crescer e ao mesmo tempo manter a essência? Como você lida com a padronização do atendimento, da qualidade, dos processos, fora das lojas próprias, nas franquias, por exemplo?
Evandro Tokarski – Auditorias, treinamentos. Lançamos recentemente a nossa plataforma de ensino a distância, que tem vídeos e muito conteúdo para a equipe. Fazemos também o cliente oculto, ou “cliente espião”, para avaliar a qualidade de atendimento.
Lições da pandemia
Maraísa Lima – Nesta pandemia, algumas empresas assumiram um protagonismo no mercado, se posicionando em defesa da vida pessoas, do bem-estar coletivo, algo que, para a Artesanal, já está no DNA e nos valores da empresa. Conte um pouco sobre o que a empresa tem feito para contribuir tanto com seus colaboradores, quanto com a sociedade em geral.
Evandro Tokarski – Nos posicionamos a favor da vida, da natureza e do bem estar coletivo. Isso faz parte mesmo da nossa essência.
Já apoiamos, desde a década de 1992, projeto de preservação do Rio Araguaia. Durante mais de 10 anos fizemos vacinação contra a paralisia infantil, além de dar apoio à proteção do Bioma Cerrado, Hospital do Câncer etc.
E, nesses últimos 9 anos, estamos focados em toda a nossa rede no recolhimento de medicamentos vencidos que as pessoas têm em sua casa e jogam no lixo ou no vaso, o que traz um impacto desastroso ao meio Ambiente. De lá pra cá, já são mais de 10 toneladas de lixo, que foram devidamente incinerados.
Com o time da Rede Farmácia Artesanal, nesta pandemia, fizemos treinamentos e palestras de conscientização, buscamos cuidar e levando à risca as práticas adotadas e comunicadas da OMS e do Ministério da Saúde. Tudo isso para que a nossa equipe esteja protegida.
Nesta semana, estamos doando 500kg de Álcool Gel a hospitais e instituições carentes.
Maraísa Lima – Que lições a empresa aprende agora que certamente contribuirão com o seu crescimento pós-pandemia?
Evandro Tokarski – Primeiro que as mudanças já aconteceram, viramos digital. Por isso, teremos que ser mais rápidos. Existe a necessidade do time estar alinhado e focado no propósito de “promover uma experiência única agregando valor à vida”.
Além disso, deve haver uma proximidade com o cliente e com os colaboradores, transparência sempre, pois já estamos em um NOVO MUNDO e um NOVO NORMAL, ou seja, isso nos exigirá novas posturas como líderes e empreendedores para enxergar novas possibilidades.
Maraísa Lima – Atuando numa área essencial, da saúde, como ter equilíbrio nas ações de comunicação, marketing e vendas para que a empresa ajude os consumidores e não seja vista como “oportunista de plantão”?
Evandro Tokarski – Esse foi um dos temas que abordamos com o nosso Comitê de Gestão de Crise. Primeiro, fomos revisar as nossas estratégias de comunicação.
Como estamos em constante alinhamento do nosso posicionamento, por meio do conteúdo de credibilidade e confiável, promovemos constantemente a busca do profissional qualificado, para não ter, por exemplo, automedicação.
Temos muita solidez nessas discussões, por meio de um grupo maduro, que é apaixonado e acredita na causa Artesanal, de promover saúde, bem-estar e informação confiável.
Liderança
Maraísa Lima – Como você disse, tivemos a oportunidade de cursar um módulo de pós-graduação de Liderança da FranklinCovey e temos pessoas em comum que relatam sobre o seu papel como líder no setor farmacêutico. Além da busca pelo conhecimento, que outras habilidades lhe conferem essa liderança reconhecida na sua área de atuação?
Evandro Tokarski – Eu sou movido pelos desafios. Desde jovem, participei de basquete em cadeira de rodas, inclusive de campeonatos brasileiros e paraolimpíadas na Korea do Sul, em 1988. Também fiz parte do movimento estudantil em plena ditadura no Brasil. Isso me possibilitou ter uma visão de líder, na vida pessoal, na vida empresarial, dentro da Artesanal e nos grupos e entidades da qual faço parte.
Eu tive um grande técnico – o Doinha – que nos ensinava: “não existe bola perdida no esporte”, especialmente no coletivo, como no basquete. Não existe somente um ganhador, é a equipe que ganha, é a equipe que perde. E isso eu trouxe pra minha vida de empresário e de empreendedor: não existe bola perdida no mercado.
O exemplo em que acredito a respeito de ser líder, é sobre formar times, cada um com seu talento, compartilhar boas práticas (CRF-GO, Anfarmag e Katalis), dividir tarefas e delegar.
Maraísa Lima – De que maneira você desenvolve a sua liderança no dia a dia da Artesanal?
Evandro Tokarski – Liderar pelo exemplo. Faço questão de participar desde treinamento inicial para quem está chegando, de conhecer e contar a história da empresa.
Também realizamos mensalmente o “Café com o Presidente”, em que fazemos o reconhecimento aos talentos do mês e dos colaboradores com mais tempo de empresa.
Maraísa Lima – Você teve algum mentor ou pessoa que o inspira a transformar as vida dos seus colaboradores?
Evandro Tokarski – Minha mãe foi a minha grande inspiradora, além de Abílio Dinis e Tony Robbins
Gestão de pessoas
Maraísa Lima – Muitas empresas temem investir em seus funcionários pois acreditam que estão os preparando para o mercado de trabalho. O que você pensa sobre isso?
Evandro Tokarski – Penso completamente o oposto, quando eu faço um curso, participo de um eventos ou congressos, já quero compartilhar com a minha equipe.
Já tivemos grupos de leitura, participamos por 2 anos consecutivos do programa Paex da Fundação Dom Cabral, que formou mais de 15 gestores em Gestão de Negócios.
Além de desenvolver o Programa 4DX (Quatro Disciplinas da Execução) da FranklinCovey por 2 anos.
Acredito que a informação leva à transformação e à ação.
Agora mesmo, estou estudando, incentivando e compartilhando muito conteúdo importante que vai nos ajudar a fortalecer a Artesanal a sair melhor da crise.
Tem um curso do Murilo Gun sobre reaprendizagem criativa que fiz recentemente e indico.
Maraísa Lima – As pessoas fazem carreira na sua empresa?
Evandro Tokarski – Sim, fazem carreira e muita história. Temos colaboradores que fazem parte da Artesanal por 35 anos, 30 anos, 20 anos! Celebramos todos os anos com eles, pois reconhecemos que são o nosso grande diferencial.
Visão de futuro
Maraísa Lima – Você disse que já está em funcionamento um grande centro de inovação em Goiânia. Conte um pouco sobre esse projeto que teve a inauguração adiada em função da pandemia.
Evandro Tokarski – De fato, criamos durante dois anos de investimentos e transferência de tecnologia, com uma empresa americana chamada Sottopelle. Trata-se de um projeto inovador na América Latina na produção de implantes, além de outro laboratório na produção de formulas estéreis, que deveríamos inaugurar no final de março de 2020, e, em função da pandemia, o faremos em data posterior, mas já estão funcionando.
Maraísa Lima – Como a Artesanal se enxerga nos próximos 40 anos?
Evandro Tokarski – Imagina o quanto evoluímos nos últimos 10 anos! Em 40 anos, enxergamos uma empresa com atuação internacional, tecnológica com os tempos que virão e com atuação no medicamento individualizado, que já fazemos hoje, porém com novas tecnologias focadas no nosso propósito, de “promover uma experiência única agregando valor à vida”
Maraisa Lima
Do Mais Goiás | Em: 14/05/2020 às 11:06:53