Carreatas e buzinaços pela reabertura do comércio, mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus, ocorreram nesta sexta-feira (27) e estão previstas para acontecer neste final de semana e na segunda-feira em capitais e cidades do interior do país.
Uma marca dos atos é a presença dos manifestantes dentro de seus carros, em meio à pandemia.
Um dia antes, a defesa de uma política leniente com a propagação do novo coronavírus no país virou objeto de um vídeo de divulgação institucional da Presidência de Jair Bolsonaro. Nele, a volta ao trabalho de regimes de confinamento é estimulada, contrariando orientações globais sobre o tema.
A peça foi distribuída, em forma de teste, para as redes bolsonaristas. Nela, categorias como a dos autônomos e mesmo a dos profissionais da saúde são mostradas como desejosas de voltar ao regime normal de trabalho.
Além disso, o próprio presidente postou em sua conta em rede social o vídeo de uma carreata realizada em Balneário Camboriú (SC) contrária ao isolamento social recomendado pela maioria dos governos que lidam com a pandemia e pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
A ofensiva mostra que Bolsonaro colocou todas suas fichas na hipótese de que a pandemia terá impacto reduzido sobre a saúde pública.
Em São Paulo, pequenas carreatas percorreram em diferentes pontos da cidade. Algumas delas com bandeiras do Brasil. Já em Ribeirão Preto, no interior, há manifestação agendada para domingo, às 10h, com concentração no estádio Santa Cruz (Botafogo).
Há previsão de atos no final de semana também em cidades como Mirassol e São José do Rio Pardo. Nesta sexta-feira (26), já houve buzinaço em Franca e São José do Rio Preto.
Em Belo Horizonte, cerca de 90 carros participaram da carreata na manhã de sexta-feira (27), que saiu da Cidade Administrativa, sede do governo do estado, e seguiu até a prefeitura, na região central.
O prefeito Alexandre Kalil (PSD) determinou suspensão de atividades não essenciais. Os manifestantes pediram a revogação do decreto da prefeitura e defenderam a adoção do isolamento parcial (apenas para grupos de risco) na mesma linha do presidente. Eles pretendem organizar uma nova carreata neste sábado.
“A gente não pode parar o país, não pode parar a economia, vários países não paralisaram suas atividades. A gente não pode continuar nessa, mesmo porque estão usando o vírus para fazer uma greve geral disfarçada de pandemia.
Tudo com uma finalidade política para tentar atacar e derrubar o presidente Jair Bolsonaro”, disse Júlio Hübner, candidato a deputado estadual pelo PSL nas últimas eleições e que participou do ato.
No Rio de Janeiro, foi marcado um buzinaço nesta sexta-feira (27) em frente à Assembleia Legislativa, no centro da cidade. O protesto, contudo, não teve muita adesão.
Há também mobilizações marcadas via redes sociais para este sábado (28) e a próxima segunda (30). Ambas têm como destino o Palácio Guanabara, sede do governo estadual. O governador Wilson Witzel (PSC), ex-aliado do presidente, foi o primeiro a implementar as restrições mais severas de circulação.
Em Campos do Goytacazes, empresários também realizaram nesta sexta (27) um buzinaço no centro da cidade em favor da reabertura do comércio. A prefeitura, contudo, manteve a determinação de que os estabelecimentos permaneçam fechados até o dia 5.
Em Curitiba, ao menos duas carreatas estavam marcadas para esta sexta-feira (27), uma pela manhã, saindo do estádio do Athletico-PR, e outra no início da tarde, que partiu de um dos bairros nobres da região central da cidade.
Um dos movimentos em Curitiba foi organizado pela organização Acampamento Lava Jato. Alguns motoristas circularam pela cidade buzinando e carregando bandeiras do Brasil. Manifestantes também soltaram foguetes no protesto.
Em Maringá, norte do estado, empresários organizaram um buzinaço contra o fechamento do comércio nesta quinta-feira (26).
Segundo o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná, enquanto cobria o protesto, um repórter cinematográfico foi atingido por uma bomba, mas não se machucou. Conforme a entidade, a polícia vai investigar a ocorrência. A prefeitura restringiu as atividades de todo comércio da cidade.
Em Mato Grosso do Sul, buzinaços contra as restrições do governo estavam marcados para esta sexta-feira na capital Campo Grande e em Dourados.
Em Goiânia, há duas manifestações alusivas à reabertura do comércio programadas. A primeira delas para as 16h desta sexta-feira (27) e a segunda, para o dia 3 de abril. Já em Cuiabá, a manifestação está marcada para a noite desta sexta. Os organizadores aconselharam idosos, crianças e grupos de risco a não participarem. Aos participantes, indicaram o uso de máscara.
No Recife, por meio das redes sociais, circula convocação para carreata na manhã da próxima segunda-feira (30). Decreto do governador de PE, Paulo Câmara (PSB), proíbe eventos públicos e privados no estado para evitar aglomerações. Há 12 dias, um dos organizadores de um ato em apoio a Bolsonaro chegou a ser detido e levado para delegacia por descumprir a norma estadual.
Em Fortaleza, o movimento denominado Consciência Patriótica chegou a convocar uma carreata para o próximo domingo (29), mas cancelou por temer multa de R$ 50 mil prevista em decreto assinado pelo governador do Ceará (PT), Camilo Santana.
Na Bahia, também circulou nas redes sociais comunicados para realização de carreatas neste fim de semana. “Não posso proibir o carro de transitar, mas não vamos permitir carro de som circulando na Bahia pregando a morte das pessoas. O responsável vai ser levado para delegacia”, disse o governador Rui Costa (PT).
Em Santa Catarina, uma carreata foi feita não para pedir a volta das atividades econômicas, mas para comemorá-la. Na noite de quinta-feira (26), carros desfilaram buzinando em Balneário Camboriú para comemorar a reabertura do comércio na próxima semana. O anúncio foi feito pelo governador de Santa Cantarina, Carlos Moisés (PSL).
O vídeo foi compartilhado pelo presidente Bolsonaro em suas redes sociais. O compartilhamento é entendido como um incentivo a esse tipo de ato. Em Balneário Camboriú, Bolsonaro foi eleito com 82% dos votos válidos.
O prefeito da cidade, Fabrício Oliveira (PSB), chegou a usar guardas para retirar banhistas da faixa de areia da praia da cidade. Questionado sobre o risco da carreata na proliferação do novo coronavírus, respondeu: “É difícil saber porque estavam dentro dos carros, o risco é aglomeração”.
“Foi um momento de exposição de sentimento pelo decreto do governador. Cumprimos o decreto, de ordem econômica. Nossos decretos foram de outra ordem, de proteção social”, explicou o prefeito.
A cidade tem cerca de 30% de idosos na sua população. São 142 mil habitantes e Oliveira encomendou 150 mil testes para detectar o novo coronavírus. Os testes em massa são uma medida para barrar o avanço, especialmente em um momento de abertura.
Em Porto Alegre, a carreata atraiu manifestações de contrários ao fim da quarentena. Enquanto carros desfilavam por ruas do Centro, algumas pessoas batiam panelas das janelas e outras chegaram a sair de casa para gritar “fora, Bolsonaro” e “Bolsonaro assassino” para a carreata.
Há relato de uma panela jogada na altura da Travessa do Carmo, na Cidade Baixa, em Porto Alegre. A carreata teve concentração inicial no Largo da Epatur. Dali, os carros partiram para um desfile com bandeiras do Brasil e buzinaço.