
Mesmo monitorados pela polícia, criminosos do Rio continuam postando rotina nas redes
Narcoterroristas do Rio de Janeiro se tornaram uma espécie de “influencers do tráfico”, usando redes sociais para se exibir e promover bets ilegais. Também mostram tiroteios, ameaçam rivais e ostentam armas e roupas de marca.
Um exemplo é Alexandre Germano da Conceição Ferreira, o “Cocão da Serrinha”, apontado como uma das principais lideranças da facção TCP (Terceiro Comando Puro).
Segundo reportagem da Folha, o narcoterrorista de 19 anos, que nunca foi preso, mas já foi denunciado em sete processos por tortura, tráfico e homicídio, mostra a rotina de confrontos com o Comando Vermelho no Rio para cerca de 40 mil seguidores.
Ele também divulga uma bet ilegal em seu perfil e já apareceu em pacotes de cocaína apreendidos pela Polícia Militar do Rio. Investigações apontam que narcoterroristas usam apostas online para lavar dinheiro e tentam legalizar empresas para operar como braço financeiro da quadrilha.
Uma vítima relatou ter tido dados bancários roubados após acessar um link de bet não autorizada, gerando um empréstimo de R$ 9.000.
Cocão segue foragido. Em monitoramentos, foi flagrado em videochamadas com o rapper Oruam e o traficante Edgar Alves, o Doca, principal liderança do CV em liberdade. Investigadores afirmam que chamadas assim são usadas como provocação entre facções rivais. O rapper é filho do Marcinho VP, líder do CV, detido em presídio federal.
Segundo a SPA (Secretaria de Prêmios e Apostas), no primeiro semestre de 2025, 45 empresas do mercado irregular de apostas tiveram contas encerradas e 112 páginas de influenciadores, além de 146 publicações, foram removidas das redes.
Dona do Instagram, a Meta afirmou que não permite “o uso de nossos serviços para promover atividades criminosas ou conteúdos que glorifiquem, apoiem ou representem organizações e indivíduos perigosos. Removemos esse tipo de conteúdo sempre que identificamos violações e estamos continuamente aprimorando nossa tecnologia e treinando nossas equipes para detectar e lidar com atividades suspeitas”.
“Também incentivamos as pessoas a denunciar qualquer conteúdo que considerem contrário aos nossos Padrões da Comunidade. Trabalhamos com autoridades e respondemos a solicitações legais, colaborando com forças de segurança nos termos da legislação aplicável”, acrescentou. Após o questionamento da Folha, a plataforma retirou do ar o conteúdo de Cocão.
Mesmo monitorados pela polícia, os narcoterroristas continuam postando a rotina nas redes. Parte dessas imagens foi usada pela inteligência da Polícia Civil para vincular mortos na megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão ao CV.
Segundo o subsecretário de inteligência da Secretaria de Segurança Pública, Pablo Sartori, “as facções usam as redes sociais como ferramenta interna para as comunidades dominadas, bem como de forma externa, buscando melhorar sua imagem na sociedade. Embora não seja feito de forma tão profissional, é sim uma ação de marketing.”
