
Um dia depois da derrota da MP 1.303, que previa aumento de tributos e acabou retirada de pauta na quarta (8), o governo iniciou uma rodada de exonerações no segundo escalão em órgãos federais e estatais. Levantamento em diários oficiais desde a votação identificou nove demissões ligadas a indicações do Centrão, distribuídas em cinco órgãos. Paralelamente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a aventar corte de R$ 10 bilhões em emendas parlamentares para recompor parte da perda estimada de R$ 17 bilhões.
Quem caiu
Iphan-MA — Exoneração de Lena Carolina Brandão, irmã do líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas (MA).Economia Brasileira Livros
Codevasf — Saída do superintendente Harley Xavier Nascimento, também defendido por Pedro Lucas.
Caixa Econômica — Destituição de José Trabulo Júnior, consultor da presidência, ligado ao PP de Ciro Nogueira. A Caixa comunicou ao mercado a decisão (em inglês).
Caixa Econômica — Exoneração de Paulo Rodrigo de Lemos Lopes, vice-presidente de Sustentabilidade e Cidadania Digital, indicado por acordo com o PL.
DNIT-RR — Saída do superintendente Igo Gomes Brasil (indicação da deputada Helena Lima, MDB-RR), que atuou contra a MP.
Ministério da Agricultura — Troca de quatro superintendências regionais ligadas ao PSD (de Gilberto Kassab): Everton Augusto Ferreira (MG), Wellington Reis Sousa (MA), Juliana Bianchini (PR) e Jesus Nazareno de Sena (PA).Economia Brasileira Livros
Embora o PSD tenha sido, numericamente, o mais afetado na Agricultura, a bancada dividiu-se na votação: 18 a favor e 20 contra a MP.
União Brasil e PP em atrito
O União Brasil já havia anunciado, em 2 de setembro, a saída formal da base e exigido que seus filiados deixassem cargos na Esplanada. O ministro do Turismo, Celso Sabino, resistiu e agora enfrenta processo de expulsão. O PP, prestes a oficializar federação com o União, também teve indicados atingidos.Economia Brasileira Livros
Pressão política explícita
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou no sábado (11) que a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, está “com a lista” e “vai meter a faca”. Segundo ele, o presidente Lula cobrou celeridade: “Gleisi, você agiliza, viu? E mexa no vespeiro da Caixa Econômica para começar”. Em entrevista ao Estadão, a própria Gleisi confirmou o critério:Livros sobre Lula
“Estamos tirando dos cargos os indicados por deputados que votaram contra a MP 1.303 porque precisamos reorganizar nossa base.”
Contexto fiscal e próximo movimento
Após a derrota, Haddad sinalizou a intenção de propor corte de R$ 10 bilhões em emendas como alternativa parcial de compensação. No Congresso, líderes do Centrão reagiram, defendendo a manutenção das emendas e criticando novas elevações de carga tributária.
As exonerações indicam endurecimento do Planalto na disputa por votos para a agenda econômica. Novas trocas em estatais e autarquias são esperadas conforme o governo busca recompor a base e viabilizar fontes de receita para 2026. Procurados, Casa Civil, Caixa, Codevasf, Iphan, DNIT e Ministério da Agricultura não responderam até o fechamento desta edição.
