
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), mudou de tom. Após semanas de postura conciliadora, o deputado decidiu endurecer a retórica contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e contra o governo Lula (PT), sinalizando que o modo “paz e amor” cedeu lugar ao realismo político – e à necessidade de manter o apoio de um Congresso inquieto com a escassez de verbas e o avanço de decisões judiciais.
Diante da condenação da deputada Carla Zambelli (PL-SP) pelo STF, Motta surpreendeu ao afirmar que a decisão sobre a perda do mandato caberá ao plenário da Câmara. A medida, que desafia a tese de que a execução de sentenças seria automática, foi justificada por ele como resposta a um “processo inédito”. “É melhor compartilhar a resolução com a maioria da Casa”, disse, recuando de sua posição anterior, na qual indicava que apenas cumpriria a ordem judicial.
A mudança de postura veio acompanhada de críticas indiretas à postura do Executivo e à pressão do STF sobre as emendas parlamentares. Em especial, Motta ecoou a insatisfação de deputados com as novas regras de distribuição das emendas de comissão, travadas neste ano e sem perspectiva de liberação no curto prazo. “Não fui eleito presidente da Câmara para servir ao projeto político de ninguém”, afirmou, em recado direto ao Palácio do Planalto.
A declaração marcou o fim do breve entusiasmo institucional que cercou a publicação da Medida Provisória com medidas fiscais, apoiada inicialmente por líderes partidários em reunião descrita por Motta como “histórica”. Dias depois, com a reação negativa de bancadas e setores econômicos, o mesmo deputado passou a criticar abertamente o conteúdo da MP, e colocou em votação o PDL que derruba o aumento do IOF.
A guinada verbal também tem como pano de fundo a crescente tensão entre Legislativo e Judiciário. Deputados reclamam de bloqueios de redes sociais, investigações por discursos na tribuna e do que chamam de “interferência” do STF em decisões da Casa – como no caso da ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), cuja suspensão integral foi negada pela Corte.
