Os dados sobre religião divulgados nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo Demográfico de 2022, revelam mudanças importantes no perfil religioso da população brasileira. Embora os evangélicos tenham registrado crescimento expressivo, o ritmo de expansão desacelerou em relação a períodos anteriores.
Segundo o levantamento, 56,7% da população com 10 anos ou mais se declara católica — o menor percentual já registrado. Já os evangélicos somam 26,9% da população, consolidando-se como o segundo maior grupo religioso do país. Em números absolutos, são 100,2 milhões de católicos e 47,4 milhões de evangélicos.
Entre 2010 e 2022, a população evangélica cresceu 35,3%, índice bem inferior ao observado na década anterior, quando o avanço foi de 69,2%. No mesmo período, a população total com mais de 10 anos cresceu 9%. Para especialistas, a desaceleração pode estar relacionada a fatores metodológicos e demográficos, como a exclusão de crianças menores de 10 anos da amostra — faixa etária em que a presença evangélica costuma ser proporcionalmente maior.
De acordo com o demógrafo José Eustáquio Alves, pesquisador aposentado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, os dados revelam que a juventude tende a ser mais evangélica que as faixas etárias mais altas. Entre brasileiros de 10 a 14 anos, 31,6% se identificam como evangélicos, enquanto 52% são católicos. Já entre aqueles com mais de 80 anos, a proporção de católicos sobe para 72%, e a de evangélicos cai para 19%.
Apesar da desaceleração, os evangélicos são maioria em 58 municípios do país, com maior concentração na região Norte. O Acre lidera entre os estados, com 44,4% da população declaradamente evangélica. Na outra ponta, o Piauí registra a menor taxa: 15,6%.
Os dados também revelam mudanças conforme a composição racial. A maior proporção de evangélicos está entre indígenas (32,2%), pretos (30%) e pardos (29,3%). Entre os brancos, a predominância ainda é católica, com 60,2%.
O catolicismo, por sua vez, vem em trajetória de queda contínua. Em 1980, mais de 90% dos brasileiros se declaravam católicos. No primeiro Censo realizado no país, em 1872, o percentual registrado foi de 99,7% — embora esse número deva ser lido com reservas, dado o caráter oficial da religião à época e a possibilidade de que indígenas e escravizados tenham sido enquadrados de forma compulsória como católicos.
