
Mesmo sob pressão de setores do governo e do Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não cogita demitir o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, após o escândalo bilionário revelado na sua gestão do INSS. Interlocutores do Palácio do Planalto confirmaram que, para Lula, a permanência do aliado — com quem mantém relação política há mais de duas décadas — não está em debate no momento.
Segundo fontes palacianas, Lula só reconsideraria a posição caso Lupi fosse diretamente citado pela Polícia Federal na Operação Sem Desconto, que investiga desvios de R$ 6,3 bilhões em cobranças fraudulentas aplicadas sobre aposentadorias e pensões entre 2019 e 2024.
O Palácio também minimiza o impacto das convocações de Lupi para depor no Congresso Nacional. A avaliação interna é que o ministro poderá usar as audiências para reforçar a narrativa de que o governo está apurando e combatendo as irregularidades, estratégia elaborada com apoio do ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira.
Carlos Lupi será ouvido nesta terça-feira (29) em audiência na Câmara dos Deputados, onde deverá ser questionado por parlamentares sobre a omissão do governo diante dos primeiros alertas sobre os descontos indevidos no INSS. Embora também estivesse previsto para participar de uma audiência no Senado, Lupi cancelou a presença no evento.
O discurso a ser adotado é o de que o governo Lula, ao identificar o problema, agiu para suspender os acordos de cooperação com as entidades envolvidas e reforçou os mecanismos de controle. Internamente, no entanto, a operação policial que levou ao afastamento do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e de outros membros da cúpula do órgão, expôs fragilidades graves na atual gestão previdenciária.
Deflagrada pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU), a Operação Sem Desconto cumpriu mais de 200 mandados de busca e apreensão e efetuou seis prisões temporárias. O esquema envolvia entidades que cobravam mensalidades diretamente dos benefícios de aposentados, muitas vezes sem autorização dos titulares.
O escândalo, que ainda está em investigação, atinge em cheio a imagem da Previdência Social e do governo Lula, mas, até o momento, não comprometeu politicamente Carlos Lupi dentro do núcleo duro do Planalto.
