
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, aproveitou uma entrevista à revista americana The New Yorker para mais uma vez reforçar sua posição como guardião autoproclamado da democracia — ou, como alguns críticos diriam, do controle institucional absoluto. Em declarações que beiram o messiânico e o exagerado, Moraes cravou o fim da era Bolsonaro, desdenhou da possibilidade de reversão da inelegibilidade do ex-presidente e lançou ataques grandiloquentes às redes sociais e seus donos.
Segundo Moraes, “não há a menor possibilidade” de Jair Bolsonaro retornar à Presidência, citando as duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o tornaram inelegível até 2030. Ainda que o julgamento criminal do ex-presidente por tentativa de golpe de Estado sequer tenha começado, o ministro já deixa claro: o futuro político de Bolsonaro está enterrado — por decisão judicial, e ponto final.
A entrevista tem um tom quase teatral. Moraes fala de si na terceira pessoa, descrevendo sua própria trajetória como se fosse protagonista de uma saga épica, com direito a ameaças de morte e “salvamento” pelas Forças Armadas durante o governo Temer. Disse que, diante da gravidade das tramas golpistas, brincou com a equipe de segurança:
“Eu não poderia morrer. O herói do filme tem que continuar.”
Sim, o ministro do Supremo agora se compara a um herói de cinema. E, como se a dose de grandiosidade não bastasse, ao falar sobre o bilionário Elon Musk — com quem travou embates públicos por conta da censura a perfis no X (ex-Twitter) —, Moraes evocou ninguém menos que Joseph Goebbels, o ministro da propaganda nazista:
“Se Goebbels tivesse acesso ao X, estaríamos condenados. Os nazistas teriam conquistado o mundo.”
A comparação leviana causou espanto, especialmente por ter sido dirigida a uma plataforma digital e seu dono. Reduzir uma guerra política e jurídica com uma empresa de tecnologia a uma analogia com o Terceiro Reich parece não só desproporcional, mas uma escolha perigosa de retórica para alguém que alega defender o equilíbrio democrático.
A entrevista reforça a imagem que Moraes tem cultivado nos últimos anos: a de um juiz que não apenas julga, mas combate — politiza, acusa, reage, antecipa e sentencia com base em sua leitura pessoal de ameaças institucionais. Ele admite abertamente que não vê clima no STF para reverter a inelegibilidade de Bolsonaro, sugerindo que, mesmo diante de novos fatos ou erros processuais, as decisões estão seladas por conveniência política.
Sobre Michelle Bolsonaro ou os filhos do ex-presidente, Moraes tenta minimizar qualquer chance de retorno ao Planalto:
“Nenhum deles tem as conexões com as Forças Armadas que ele tinha.”
A fala, apesar de travestida de análise, soa como recado: sem apoio militar, nem tentem. Um ministro da Suprema Corte transformado em guardião da geopolítica castrense — é esse o novo normal institucional brasileiro?
A New Yorker descreve Moraes como um dos “homens mais poderosos do Brasil”. Isso, ele não nega — e parece até fazer questão de endossar. O tom da entrevista, entre risos e ameaças veladas, revela um magistrado que se vê acima da política, da imprensa e até da crítica.
