A Justiça recebeu denúncia do Ministério Público de Goiás (MPGO) contra os empresários responsáveis pelo Berçário Linay, em Goiânia, acusado de manter bebês no escuro e promover tortura. A informação foi divulgada nesta tarde de sexta-feira (31) pelo órgão.
Conforme a peça acusatória da promotora Camila Fernandes Mendonça, entre agosto de 2023 a dezembro de 2024, ao menos 30 crianças de 6 meses a 3 anos teriam sido submetidas a intensos sofrimentos físicos e psicológicos. Com o recebimento, a Justiça determinou a expedição de ofícios ao Conselho Municipal de Educação de Goiânia para que informe se o local tinha autorização para funcionamento, além da requisição de verificação de eventuais denúncias ou procedimentos administrativos envolvendo a unidade, com encaminhamento de toda a documentação pertinente ao Juízo.
Também foram determinadas medidas cautelares contras os acusados:
Comparecimento mensal em Juízo, até o dia 10 de cada mês, para fornecer e atualizar seus endereços, bem como para justificarem suas atividades;
Proibição de se ausentarem da comarca por mais de 8 dias, sem autorização judicial
Recolhimento domiciliar noturno, todos os dias, das 22 às 6 horas;
Proibição de aproximação e contato com as vítimas;
Proibição de frequentar lugares próximos às vítimas;
Suspensão do exercício de atividade de natureza econômica, financeira ou não, que envolvam crianças e adolescente
Caso
Sobre o caso, investigação da Polícia Civil aponta que antigos proprietários do estabelecimento mantinham as crianças em um quarto sem iluminação, onde permaneciam privadas de comida e água ao longo das estadias diárias. Ele foi revelado por uma mãe, que notou mudança no comportamento do filho, o que culminou no indiciamento dos responsáveis pela unidade no último dia 20. Vendido em meados de outubro, o estabelecimento segue em funcionamento, mas sob nova direção – sem relação com os crimes.
Em entrevista ao Mais Goiás, a mãe e advogada Ingrid Gabriella Lima Barcelos relatou que soube da situação após ser procurada por uma ex-funcionária que estava em busca de emprego. Durante a conversa, a ex-cuidadora revelou o tratamento destinado às crianças no local. O caso foi denunciado à polícia. Confrontados, os ex-proprietários negaram as acusações, mas outras cuidadoras e mães confirmaram os relatos. A polícia ouviu seis ex-funcionárias e 11 pais, que corroboraram as denúncias.
Ainda conforme a denúncia, as crianças eram levadas para um quarto completamente escuro sempre que começavam a chorar. Lá elas ficavam até adormecerem ou pararem de chorar. Ingrid, afirmou que as refeições eram limitadas: “a sopa batida era oferecida apenas uma vez e a água fornecida era quente, aumentando o desconforto das crianças. As crianças que estivessem dormindo não eram alimentadas”, relatou.
Ingrid afirma que um dos episódios de maus-tratos teve seu filho como alvo. “Ele estava tentando se mover na cadeirinha e a cuidadora irritada abriu a porta no rosto dele para que ele ficasse quieto.”
Defesa fala em “conluio”
A defesa do Berçário Linay disse que a mãe denunciante é, além de parte interessada, advogada e empregadora de ex-funcionárias do local em ações trabalhistas ajuizadas recentemente. Para o advogado Renan Marcedo Vilela Gomes, a situação pode indicar “um conluio entre ex-funcionárias e a mãe-advogada”.
“Coincidentemente, as citações dessas ações trabalhistas foram recebidas na data de hoje [sexta, 31], o que levanta questionamentos sobre os reais interesses por trás da notícia-crime. A simultaneidade dos fatos sugere a possível existência de um conluio entre ex-funcionárias e a mãe-advogada, o que pode comprometer a credibilidade das acusações e das investigações em andamento.” Desta forma, afirma que vai notificar o Ministério Público de Goiás (MPGO) para que os fatos sejam devidamente apurados.
O Mais Goiás tenta contato para que a defesa comente sobre o recebimento da denúncia.