A disparada do dólar e dos juros futuros provocou um baque significativo no mercado financeiro brasileiro. Nos últimos dez dias, o valor de mercado das 367 empresas listadas na B3, a Bolsa de Valores brasileira, sofreu uma queda de R$ 173 bilhões. Esse montante equivale a toda a capitalização do Banco do Brasil, avaliada atualmente em R$ 136 bilhões.
No final de novembro, as empresas listadas na bolsa acumulavam um valor de mercado total de R$ 4,34 trilhões. Nesta quinta-feira (19), o montante caiu para R$ 4,16 trilhões, refletindo a forte liquidação de ativos e o aumento da aversão ao risco por parte dos investidores.
Entre os setores mais atingidos estão as empresas aéreas, que possuem alta exposição a dívidas em dólar. Algumas companhias do setor enfrentam níveis de desvalorização ainda mais acentuados do que os registrados em março de 2020, quando a pandemia de Covid-19 foi declarada.
O economista Alexandre Chaia, professor do Insper, destaca que, para empresas com receitas em dólar, como a Embraer, o impacto é minimizado. No entanto, empresas que faturam em reais e têm custos atrelados à moeda americana devem repassar os aumentos para os consumidores, caso o dólar mantenha-se em alta.
O cenário de incertezas fiscais no Brasil foi apontado como um dos gatilhos da crise. A falta de confiança no compromisso do governo Lula em relação às contas públicas gerou um movimento de vendas em pânico, que pressionou ainda mais as cotações.
Fatores externos também pesaram. Declarações de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), sobre possíveis aumentos adicionais nas taxas de juros norte-americanas afastaram ainda mais os investidores de mercados emergentes, como o Brasil.
A alta do dólar tem consequências diretas para a economia real, especialmente em setores dolarizados, como o agronegócio e a aviação. Custos crescentes de insumos e financiamentos podem refletir no preço final de produtos e serviços, atingindo o consumidor.
“Embora a volatilidade seja característica da renda variável, o cenário atual sugere um impacto mais profundo nas operações empresariais, especialmente se o dólar continuar em alta”, alertou Chaia.