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Diesel já custa mais que gasolina em postos de combustível
Economia
Publicado em 24/06/2022

O litro do óleo diesel já custa mais do que o da gasolina e do etanol em postos de combustíveis e supera até mesmo o valor cobrado na gasolina aditivada em alguns locais, algo inédito segundo o Sincopetro (sindicato representante dos postos). A reportagem encontrou exemplos na cidade de São Paulo e na internet também há relatos de outros estados.

 

A situação é um reflexo direto do último aumento anunciado pela Petrobras, no dia 17, que reajustou em 5,2% o preço da gasolina nas refinarias e em 14,2% o valor do diesel. Na ocasião, a estatal alegou que o mercado de petróleo passa por uma mudança estrutural e que é necessário buscar convergência com os preços internacionais.

 

Nesta quinta-feira (23), no posto da rede Papa localizado na marginal Tietê, na Vila Leopoldina, em São Paulo, o litro diesel tipo S-10 era vendido por R$ 0,40 a mais do que o da gasolina comum. Enquanto a gasolina é vendida por R$ 6,69 o litro, o diesel comum custa R$ 7,09. No caso das opções de diesel e gasolina aditivados, a diferença também é de R$ 0,40 por litro.

 

A diferença é ainda maior no Autoposto Brasil, na Vila Guilherme, onde o litro do diesel comum está custando R$ 7,18, enquanto o litro da gasolina comum é vendido a R$ 6,58, uma variação de R$ 0,60 por litro.

 

Há quase 50 anos trabalhando no ramo de varejo de combustíveis, o empresário Francisco Pereira Simão, proprietário do Autoposto Novo Mundo, na marginal Tietê, diz nunca ter visto o preço do diesel ser superior ao da gasolina.

 

“O preço do diesel sempre foi 70% do que era cobrado pela gasolina. Ele era vendido quase que no mesmo preço do etanol”, diz.

 

Nesta semana, após os recentes reajustes, a revendedora começou a vender o litro do óleo diesel a R$ 7,49, e a gasolina, a R$ 6,99 (ambos na versão comum). Até a gasolina aditivada, vendida a R$ 7,09, custa menos que o diesel.

 

No estabelecimento, metade do faturamento vem da venda de óleo diesel enquanto a outra metade é dividida entre as vendas de gasolina e etanol. Por isso, o reajuste passado pela distribuidora deixou o empresário preocupado.

 

“Cada vez que o preço aumenta o lucro diminui e o nosso capital de giro também. O dinheiro da venda da semana passada não compra o combustível desta semana.”

 

No Autoposto Pêssego GNV, na avenida Jacu-Pêssego, zona leste, o litro do diesel é vendido a R$ 7,19 e supera a gasolina comum, a R$ 6,79, e a aditivada, a R$ 6,99.

 

No Autoposto Vitrine 2, na rua Américo Sugai, também na zona leste, o litro da gasolina é R$ 0,50 mais barato que o diesel. No local, os combustíveis comuns são vendidos por R$ 6,79 e R$ 7,29 o litro, respectivamente. Já gasolina aditivada custa R$ 6,99.

 

No Autoposto Pêssego, na avenida Sábado D’Angelo, o letreiro amanheceu nesta quinta-feira anunciando óleo diesel R$ 0,10 mais barato do que a gasolina, a R$ 6,99 o litro. Mas, na metade da manhã os preços já mudaram, afirma o gerente Daniel Francisco. Agora, o litro do combustível passou a ser vendido a R$ 7,79, enquanto a gasolina baixou para R$ 6,99.

 

“Normalmente, temos muita saída de diesel aqui no posto. Mas, como não mexemos no preço desde sábado a gente teve uma procura grande nesses últimos dias. Ontem precisamos reabastecer o estoque e o produto veio com preço mais alto na nota.”

 

José Alberto Gouveia, presidente do Sincopetro, sindicato que representa postos em São Paulo, diz que as revendedoras já estão sentindo queda no volume de vendas, inclusive de óleo diesel, por conta dos últimos aumentos.

 

“O uso de diesel em carros particulares é praticamente zero, ele é bastante consumido no transporte de carga e no transporte de pessoas. É um produto que não tem como fazer economia, ou o motorista usa ou ele não trabalha. Mesmo assim tivemos uma queda sensível nas vendas.”

 

Gouveia diz que as revendedoras são o último elo da cadeia que define os preços dos combustíveis e que o repasse feito pelas distribuidoras às revendedoras foi maior do que o praticado pela Petrobras, o que ajuda a justificar o diesel mais caro que os outros combustíveis.

 

“Há algum tempo os preços estavam muitos próximos um do outro e nesse último reajuste o óleo diesel teve uma alta maior do que a gasolina.”

 

A disparada do preço do diesel reflete aperto no mercado internacional do combustível, diante da redução da oferta russa e do aumento do consumo para geração de energia em países afetados por cortes no fornecimento de gás da Rússia.

 

O preço do diesel nas refinarias é historicamente mais alto do que o da gasolina, mas a diferença na carga tributária fazia com que o consumidor brasileiro pagasse menos por este último.

 

Na primeira semana de junho, segundo a Petrobras, cada litro de gasolina vendido nos postos tinha R$ 2,44 em impostos federais e estaduais. No diesel, eram R$ 0,82 – neste caso há hoje apenas impostos estaduais, já que o governo federal zerou a sua parcela.

 

As restrições na oferta de diesel preocupam o mercado de combustíveis no país, que vê riscos de falta de produto no início do segundo semestre, principalmente se a temporada de furacões forçar a paralisação de refinarias nos Estados Unidos.

 

Reação de internautas nas redes sociais Internautas se manifestaram nas redes sociais nos últimos dias indignados com o preço do óleo diesel sendo vendido mais caro do que a gasolina.

 

Morador de Porto Alegre, Humberto Matos compartilhou preços cobrados por revendedoras de combustíveis na capital do Rio Grande do Sul.

 

Na foto registrada em 21 de junho, o internauta Ramon Cujui, de Porto Velho (RO) destacou a variação no preço da gasolina comum e do diesel S-10 aditivado, vendidos respectivamente a R$ 7,05 e R$ 7,65. “Parabéns aos envolvidos”, escreveu na publicação.

 

Em Juazeiro do Norte, no estado do Ceará, o litro do óleo diesel já se aproxima dos R$ 9. “Isso é inusitado”, postou o internauta Rubens.

 

Morador de São José do Egito, interior de Pernambuco, o internauta Jackson Ferreira também destacou a variação dos preços. “Jamais vi no sertão nordestino, diesel mais caro que gasolina”, escreveu.

 

Distribuidoras dizem que não definem política de preço

Por meio de nota, a Ipiranga informou que pratica uma política de preços de forma regular e alinhada com os parâmetros vigentes.

 

Em relação ao preço do diesel em comparação ao da gasolina, a empresa diz que os mercados são diferentes, não competindo entre si, “bem como os impactos de custos, que também são distintos referentes à refinaria e importação. Não há impacto em nossa estratégia corporativa ou de pricing”.

 

A ALE disse que não interfere na definição de preços nos postos, que têm administrações autônomas.

 

A Vibra, distribuidora da Petrobras, informou que a precificação é livre nos diversos mercados e que cada revendedor tem níveis de formação de custo dos produtos e de competitividade diferentes, o que leva a uma diferença nos preços praticados nas bombas em todo Brasil.

FolhaPress

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