A Universidade Federal de Goiás (UFG) formou o primeiro indígena no curso de Arquitetura e Urbanismo. A informação é de Yuninni Terena, de 24 anos. Nas redes sociais, ele publicou: “Finalmente Arquiteto e Urbanista. O primeiro Indígena Arquiteto da UFG.” Por nota, a Comissão de Inclusão e Permanência da UFG confirmou a informação.
Yuninni é da etnia Terena. De Aquidauana, da terra indígena de Limão Verde, Mato Grosso do Sul, ele vive em Goiânia desde 2003 com o pai e a mãe – mas volta sempre à aldeia, nos recessos. Ao Mais Goiás, ele diz que optou pelo curso de Arquitetura e Urbanismo por querer mostrar a arquitetura indígena, algo passado de pai para filho.
“Quis mostrar e documentar a arquitetura étnica para valorizar a nossa cultura e mostrar que não é uma arquitetura arcaica, que pode ser aplicada na sociedade atual.” Ele frequentou a graduação de 2015 até 2021.
Inclusive, o trabalho de conclusão de curso (TCC) de Yuninni é um manual de construção indígena dos povos originários do cerrado – o nome do TCC é ITUKETI (do idioma Terena – o ato de construir). Orgulhoso, ele revela que já recebeu diversas manifestações de alegria pelo diploma por parte da comunidade. “Cânticos de agradecimento”, não disfarça a alegria.
“Sair da comunidade, adquirir e levar o conhecimento acadêmico sempre foi motivo de orgulho. Então, dedicamos estes estudos às gerações passadas”, emenda ao lembrar que os avós não tinham acesso à educação superior, apesar de saber na prática a arquitetura étnica – que ele carregou como bagagem desde que entrou no curso, em 2015.
Destaca-se, além de Yuninni, outra indígena entrou no curso de Arquitetura, mas no começo deste ano. Trata-se de uma aluna da etnia Boe Bororo, oriunda do interior de Goiás.
Motivação
Também ao portal, o arquiteto (que cola grau no ano que vem) revela que a família mudou para Goiânia em 2003 para que o pai, Mauro Terena, estudasse Direito em uma universidade particular. “Uma das minha inúmeras motivações foi seguir os passos dele como liderança indígena e ativista pelos direitos dos povos originários”, revela.
Assim, ele reforça que optou pela arquitetura por ter sido introduzido nesse meio desde criança, “vendo a união de toda a comunidade para a construção de bens comuns, desde a colheita de matéria prima, estruturação e finalização. Quero afirmar a importância e validade dos conhecimentos dos povos originários que, desde o colonialismo, vem sendo desvalorizados e tidos como arcaicos e impróprios para contribuição na construção da sociedade contemporânea.”
Questionado sobre as dificuldades de terminar o curso na pandemia, ele afirma que foram muitas, uma vez que o computador dele não era o mais apropriado para os programas, além das dificuldades técnicas referentes à internet. “Mas a UFG foi certeira em disponibilizar celulares e notebooks para alunos poderem terminar as graduações.”
Agora, Yuninni pretende continuar os estudos em Goiânia ou em outro Estado onde consiga uma pós-graduação (mestrado). O objetivo é continuar os estudos acadêmicos como pesquisador e registrar cada vez mais a arquitetura indígena. “Repassar o conhecimento dos nossos ancestrais e validar nossa arquitetura”, finaliza.