O Brasil assinou nesta terça-feira (2), durante a COP26, o Compromisso Global sobre Metano, junto a 96 países. O objetivo do acordo é reduzir 30% das emissões globais de metano até 2030, em comparação com as emissões de 2020.
Cerca de 70% das emissões do gás no país estão concentradas no setor agropecuário, segundo dados do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa).
Maior exportador de carne bovina do mundo, o Brasil resistia ao acordo, que implica a revisão de processos na pecuária. Segundo fontes ligadas ao alto escalão do governo federal, a pressão dos Estados Unidos nas últimas semanas foi decisiva para a adesão, que teve a concordância dos ministérios do Meio Ambiente, das Relações Internacionais e da Agricultura.
À Folha, o vice enviado especial para o clima dos Estados Unidos, Jonathan Pershing, confirmou o trabalho de convencimento, que ocorreu nas últimas semanas.
“Nós concordamos em trabalhar com os membros do acordo com tecnologia. Há mais de US$ 300 milhões filantrópicos para ajudar na transição. Nós falamos: isso é uma vitória, uma oportunidade. E nesse contexto, países vão começar a considerar: por que eu vou comprar de um país que não está trabalhando nisso?”, disse Pershing.
“O presidente Biden está baseando sua estratégia climática na agenda econômica, focando em oportunidades para gerar empregos com bons pagamentos. Isso tende a ganhar uma vida própria e ir adiante”, afirmou à Folha a conselheira de clima da Casa Branca, Gina McCarthy.
“O governo brasileiro também está buscando meios de ser mais cooperativo”, notou Pershing.
Segundo a Embrapa, a maior parte das emissões de metano do setor agropecuário se deve à fermentação entérica dos bovinos, mas o uso de fertilizantes nitrogenados também gera emissões.
Os signatários do Compromisso Global sobre Metano representam pelo menos 46% das emissões do gás e dois terços do PIB global, segundo análise do WRI (World Resources Institute). As emissões globais de metano também estão ligadas a fontes de energia fósseis como carvão, petróleo e gás. O acordo prevê a revisão anual do progresso da meta em encontro com ministros dos países signatários.
O engajamento global partiu do anúncio conjunto dos Estados Unidos e da União Europeia, que em setembro já haviam declarado o compromisso com a meta.
A atenção global para as emissões de metano disparou em agosto, quando o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU) revelou que o metano é o segundo gás que mais afeta o clima global, respondendo por 0,5ºC do aquecimento global de 1,1ºC experimentado desde 1900.
O metano também é uma aposta para uma ação climática de curto-prazo.
“A vantagem do metano é que ele tem uma meia-vida curta, então qualquer redução de emissão tem um impacto em curto prazo no sistema climático global”, diz o físico Paulo Artaxo, professor da Universidade de São Paulo e membro do IPCC.
Segundo Artaxo, enquanto o gás carbônico tem meia-vida de milhares de anos (tempo necessário para que metade do número de átomos comece a se desintegrar), a do metano é de apenas onze anos. Ou seja, os efeitos da redução das emissões de metano podem ser percebidos no clima em um prazo mais curto.