Subiu para seis o número de denúncias contra o pastor Esney Martins da Costa, suspeito de crimes sexuais, em Goiânia. As denúncias chegaram à Defensoria Pública do Estado, na tarde desta terça-feira (2), após uma reportagem revelar outros três casos, entre eles, de uma adolescente. O delegado Rilmo Braga informou que o religioso negou qualquer crime em depoimento.
A Defensoria Pública informou que os relatos das novas vítimas são muito parecidos com os das primeiras fiéis que denunciaram o pastor, mas que não pode passar detalhes. Até as 19h, as três mulheres ainda estavam em atendimento e, conforme o órgão, após análise, os casos também serão levados à Polícia Civil.
O pastor começou a ser investigado após um ex-membro da igreja Renascendo para Cristo, coordenada pelo religioso, soube dos supostos abusos. Sabendo da existência de um núcleo de apoio às vítimas, levou o caso aos defensores.
De acordo com a defensora pública Gabriela Hamdan, o caso mais recente teria acontecido há poucos meses. Outros teriam sido há dois e cinco anos.
“Essas vítimas trouxeram relatos muito semelhantes dos casos, embora cada um tenha ocorrido em uma época. No início, elas começaram a frequentar a igreja e se sentiram acolhidas. Esse líder religioso se aproximava delas como uma figura paterna e começava a ajudar financeiramente, levar para fazer retiro”, disse a defensora.
Após ganhar a confiança das vítimas, começavam os abusos, segundo a Defensoria Pública.
“Começava-se com uma oração com imposição de mãos como se tivesse pegando no coração e, aí, descia a mão. Era algo sutil, e as vítimas começavam a duvidar se estavam ficando loucas por estarem acusando um homem de Deus” contou Hamdan.
Relatos
O pastor se apresentava aos fiéis como um intérprete da vontade de Deus. Foi com esse discurso que ele conseguiu molestar uma das vítimas.
"Ele falava que era para o meu crescimento espiritual, que era para eu crescer na vida. Ele às vezes confunde até a mente da gente em acreditar que o que ele faz vem de Deus", afirmou uma das vítimas.
Ela ainda disse que, ao contar ao pastor que tinha sido abusada sexualmente quando era criança, ele insistiu ainda mais: "Você vai ter que passar pela ferida para ser curada. E aí eu fiquei: 'Meu Deus, eu vou ter que ser molestada de novo para ser curada de um trauma que eu fui na infância?' Então isso não me deixava dormir", relembrou.
Polícia investiga pastor por suspeita de abuso a fiéis e diz que ele negou crime em depoimento
A família da adolescente relata que descobriu os abusos após perceber a mudança de comportamento da menina. "Todas as vezes que ela ia, ela chegava em casa chorando e se mutilava - as pernas, as costas. E eu comecei a desconfiar. Foi um choque. Quando eu vi aquilo, o meu mundo desabou. Eu morri ali. Eu me sinto culpada, eu me sinto culpada de tudo, mas eu também fui vítima disso tudo. Ele me enganou", lamentou a mãe dela.
Em uma das mensagens encontradas, o religioso diz que a menor dormiria na casa dele. Em outra, ele orienta a garota a se fingir de "doida" para a família caso eles desconfiassem de algo. Segundo a família, os dois tiveram relações sexuais.
"Oi, amorzinho. Te amo. E olha, não se deixe vencer, tá bom? Não dá ouvido e faz o que eu falei. Se você tiver que dar uma de doida, você vai lá naquelas imagens da sua mãe e quebra tudinho. Joga no chão e rola no chão", diz a mensagem de áudio.
Investigação
Dois casos estão sendo investigados pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) e o da menor, na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). O pastor prestou depoimento e disse que é inocente.
“A princípio, o suspeito nega todas as acusações e se coloca à disposição da polícia. O que percebemos é que as informações trazidas aos autos em nada colaboraram com as investigações”, disse Rilmo Braga, delegado e gerente de Planejamento Operacional da Polícia Civil.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa do pastor nesta segunda-feira (2). Em nota enviada ao Fantástico, a advogada Rosângela Magalhães disse que ele prestou todas as informações solicitadas e está colaborando com as investigações. Ela apontou ainda que as denúncias não tratam de fatos praticados com violência ou grave ameaça.
A polícia ainda aguarda que novas testemunhas e até mesmo novas vítimas possam aparecer após as denúncias que já foram feitas. Se forem comprovadas as acusações, o pastor pode ser indiciado por crime de violação sexual mediante fraude e importunação sexual. Somadas, as penas podem ultrapassar dez anos de prisão.
Por Guilherme Rodrigues, G1 GO